No platô da antiga serrania de Quebrantões e a leste de um sombrio maciço de eucaliptos e australias (acácias) levanta-se o famoso mosteiro dos Agostinhos, que placidamente desfruta a adorável curva do rio verde glauco - tantas vezes barrento!- resvalando para o mar, coalhado de embarcações, no sopé (...) da Invicta, cujos derradeiros planos se recortam nas transparências da abóbada (Manuel Monteiro in Mea Villa de Gaya, 1909). Localizada no cimo da Serra de Quebrantões, actualmente denominada Serra do Pilar, está o monumento ex-libris de Vila Nova de Gaia: o Mosteiro da Serra do Pilar. Património Mundial da Unesco desde 1996, é mundialmente conhecido. A sua história no entanto poucos a conhecem...
Tudo começa com D.Pedro Rabaldio, Bispo de Porto, que fundou no ano de 1140, um convento de freiras denominadas Emparedadas de São Nicolau, no chamado Monte da Meijoeira, no lugar de Quebrantões, junto a uma ermida aí existente. Este convento manteve-se activo até princípios do século XIV, altura em que foi abandonado. Em meados do século XVI, D.Bento Abrantes era Prior do Mosteiro de São Salvador de Grijó, que estava em ruínas e a necessitar de obras. Comunicou ao rei D. João III, que o Mosteiro estava velho e muito arruinado, que era situado num lugar baixo, húmido e pouco sadio, e que determinou mudar para melhor e para mais perto do Porto (...) escolhera o Monte de São Nicolau, fronteira àquela cidade, e que para cerca queria comprar o montado de Quebrantões (O
Panorama: semanário de litteratura e instruccao, Volume 4). O monarca deu o seu aval, mandando principiar as obras do novo Mosteiro no monte entretanto denominado de São Nicolau, após ter tido a concordância de D.Baltazar Limpo, Bispo do Porto e de receber a bênção papal de Paulo III. A primeira pedra para a construção do novo mosteiro foi benzida pelo Bispo do Porto, no dia 28 de Março de 1537. O projecto da obra foi entregue a Diogo de Castilho (arquitecto e escultor da Biscaia) e Jean de Rouen (escultor e arquitecto francês), estando as obras a cargo de Frei Brás de Barros (que depois se tornou no primeiro Bispo de Leiria).

Apesar de ser votada a Santo Agostinho, a grande adoração das gentes de Gaia e arredores fazia-se à Nossa Senhora do Pilar, cuja imagem fora colocada no altar-mor da igreja na Páscoa de 1678, pelo Prior Jerónimo da Conceição, para adoração dos fiéis. O culto à Senhora do Pilar era de tal forma fervoroso que passou a dar o nome à igreja, ao convento e ao próprio monte ou serra, como ainda hoje os conhecemos: O Mosteiro da Serra do Pilar! O dia 15 de Agosto, dia de Nossa Senhora do Pilar comemora-se há mais de 330 anos na cidade de Gaia.
O Mosteiro tem o seu nome escrito em diversas páginas da história de Portugal: na expulsão dos franceses da cidade do Porto, durante as invasões francesas e durante o Cerco do Porto, quando foi o único reduto dos liberais na margem esquerda do Douro e crucial para a vitória de D.Pedro. Bastante danificado durante a guerra que opôs os absolutistas aos liberais, esteve em perigo de ruína, tal foi o abandono a que foi votado.
A 10 de Setembro de 1844, a rainha D.Maria II instituiu por alvará a Real Irmandade de Nossa Senhora da Glória da Serra do Pilar em cujos estatutos se pode ler no dia da
festividade da Padroeira haverá missa cantada de três Padres, e sermão com o
Santíssimo Sacramento exposto. E no fim da missa se cantará o Te Deum Laudamis,
em acção de Graças pelos benefícios recebidos por intercessão da Virgem Nossa
Senhora da Glória do Pilar: a qual visivelmente protegeu os briosos defensores
do Trono, para restituírem à legítima Rainha a Senhora D.Maria II,
abroquelando (defendendo) os bravos soldados do Senhor D. Pedro, Duque de Bragança, de saudosa
memoria, para recobrarem a Carta Constitucional da Monarquia Constitucional e com ela a Liberdade Nacional e legal. Com esta Irmandade foi restabelecida a actividade religiosa do mosteiro e a sua recuperação foi feita com o apoio das gentes de Vila Nova de Gaia.
Mas pelos finais do século XIX e inícios do século XX, o Mosteiro da Serra do Pilar foi votado ao esquecimento. O desmazelo e o abandono em que se encontra, justificam porém a ignorância que a seu respeito existe. Mais benévola atenção merecia o monumento altaneiro de uma inigualável singularidade arquitectural, que decerto a teria num outro País não tão inestético e vândalo como o nosso (Manuel Monteiro in Mea Villa de Gaya, 1909).

Sem comentários:
Enviar um comentário