
Ao longo dos dias o jornal ia relatando a evolução da votação e os dias mais votados eram o 24 de Junho e o dia 1 de Maio. No dia 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os votos finais
do referendo popular: o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos,
seguido pelo 1º de Maio, com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição,
com 1975 votos, e o dia 9 de Julho, com oito. Ficou, pois, vencedor o dia
de S. João que é aquele que o povo do Porto escolhe para ser o de feriado
municipal. O povo decidiu e o feriado da cidade do Porto passou a ser o dia de São João. Mas mesmo quando o dia não era de feriado, a festa fazia-se e é de longa tradição. O mais antigo registo das festas de São João do Porto data do século XIV, onde Fernão Lopes na Crónica de D.João I, se refere à noite de São João do Porto como a maior folgança da cidade onde há festas cheias de animação e entusiasmo desabrido. A noite de 23 para 24 de Junho festeja-se na cidade Invicta há mais de 600 anos! Festa de origem pagã, marca a noite do solstício de Verão, antigo culto do Deus Sol. As fogueiras de São João, ritual de purificação e de fertilidade, que ainda hoje fazem parte da tradição popular, estão relacionadas com o culto solar, tal como o lançar dos balões. Outra das tradições antigas é a utilização do alho-porro. Sendo visto como um protector contra os maus-olhados, deve ser levado na noite de São João para casa e colocado atrás da porta durante todo o ano. O acto de passar o alho-porro pela face de alguém na noite são joanina, significa desejar boa sorte e protecção contra os espíritos maléficos.
O manjerico é outro dos símbolos presentes na festa. Seguindo a tradição romana, que considerava a erva do manjerico como a erva dos namorados, é visto como o símbolo de amor e de namoro. Engalanado com uma quadra tradicionalmente de galanteio ou de elogio, era usado como meio de convidar uma rapariga a namorar. Como disse Júlio Couto (economista, historiador e professor de dicção, nascido no Porto) por alguma razão, tempos houve em
que na Maternidade Júlio Dinis, os médicos já sabiam que não havia férias
para ninguém, 9 meses depois do S. João. Mas não há festa de São João em que não se ouçam os característicos sons dos martelinhos. Apesar de estarem tão ligados a esta festividade popular, os martelinhos só se juntaram à festa em 1963. Manuel António Boaventura, industrial de plásticos do Porto, foi o obreiro deste símbolo das festas de São João. Numa das suas viagens ao estrangeiro viu um saleiro em forma de fole, que lhe deu a ideia para fabricar um brinquedo. Ao fole adicionou um cabo de plástico e deu-lhe a forma de martelo. Nesse mesmo ano os estudantes universitários requereram ao industrial um brinquedo ruidoso para a Queima das Fitas, e o mais ruidoso que tinha era o recém-fabricado martelinho. O sucesso foi imenso e o martelinho começou a ser pedido pelos comerciantes do Porto, para os festejos de São João. Rapidamente aceite pelas gentes do Porto, tornou-se um símbolo festa e durante 5 ou 6 anos foram vendidos para a noite do Santo portuense.
No entanto, a Câmara do Porto, através do seu presidente e do seu vereador, decidiu fazer queixa ao Governo Civil do Porto, do martelinho. Consideravam que ia contra a tradição popular! No ano seguinte, foram apreendidos todos os martelinhos que existiam nas lojas comerciais e foi proibida a sua comercialização. Quem fosse apanhado a vender o dito martelo seria multado em 70 escudos. No entanto nada demoveu os portuenses, que mantiveram a tradição por eles criada e continuaram a usar os martelinhos que possuíam dos anos anteriores. Só em 1973, Manuel António Boaventura, após ter perdido nos tribunais de 1ª e 2ª instância, conseguiu ganhar no Supremo Tribunal, a acção que entretanto tinha posto contra a Câmara do Porto.Finalmente os martelinhos de São João eram livres de serem fabricados e vendidos! Assumindo quase um carácter mágico e inexplicável, a noite de São João é uma festa de celebração e de libertação. Nesta noite festejam-se rituais antigos, confundem-se cheiros e sabores, libertam-se medos e respira-se liberdade. Sem receios, sem pudores, com alma e garra, as pessoas misturam-se e partilham momentos de pura alegria, que só quem viveu uma noite de São João do Porto pode entender. Como diz a quadra popular
Na noite de São João
É tanta coisa que nunca vi.
Sai à rua, pois então,
Porque o Porto chama por ti.
A cidade clama pelas suas gentes e nada mais há a fazer do que lhe obedecer!É assim o São João do Porto!
Olá! Adorei o seu texto sobre o S. João do Porto! Não é verdade que não há nada para fazer, há muita coisa para fazer na noite de s. João!Eu cresci em Braga e a festa de Junho era a minha favorita. Ao contrário das outras crianças, que esperavam pelo Natal, eu esperava pelo s. João. Nos últimos dois anos fui ao Porto passar o s. joão. Não se se irei este ano pois o orçamento está bem apertado e tudo é caro, ir, ficar...até o alho é caro, e eu prefiro ao martelo!:))Já vivi no Porto por 2 vezes e espero voltar, mas até agora não tenho tido sorte nas entrevistas. É a cidade portuguesa que mais gosto! Parabéns, mais uma vez, pela postagem!
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu comentário!Eu adoro a festa de São João e desde que me lembro que participo nesta fantástica festa popular. Quando que referi ao facto de "não haver nada a fazer" estava a realçar a espontaneidade que está na base desta manifestação popular. Não há nada programado...as pessoas saem à rua sem nada marcado apenas para fazer parte da festa. Para mim é isto que torna o São João do Porto tão especial!Espero que consiga vir para o Porto, pois de facto partilho consigo a paixão pela cidade Invicta! Boa sorte!
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