Na cidade italiana de Turim, nasce no dia 16 de Outubro de 1847, uma menina filha de Victor Manuel I, rei de Piemonte e da Sardenha, e da Arquiduquesa da Áustria, D.Maria Adelaide de Habsburgo, a quem foi posto o nome de Maria Pia de Sabóia. Criada numa família defensora do liberalismo, e tendo perdido a mãe aos sete anos, Maria Pia cedo absorveu os ideais por que tinha lutado o seu avô Carlos Alberto, tornando-se numa criança independente, curiosa e ávida de conhecimento. Rodeada de carinho familiar e habituada ao luxo da corte de Piemonte, tornou-se numa bonita e inteligente adolescente, cobiçada e reconhecida nas grandes casas reais da Europa. O dia 11 de Setembro de 1861, marcará para sempre a vida desta pequena princesa. Nesse dia, em Portugal morre D.Pedro V, rei de Portugal, de febre tifóide. O seu irmão D.Luís, então com 23 anos, torna-se repentinamente o novo rei e é urgente garantir a descendência, já que apenas tinha irmãs, todas elas casadas com herdeiros de outras casas reais. A primeira escolha recai sobre uma das filhas da rainha Vitória, mas a lei britânica não permitiu o enlace dada a diferença de religião, levando no entanto a rainha inglesa a afirmar que, eu sinto-me sempre bem sensibilizada por vós terdes sonhado com elas. Foi ainda colocada a hipótese da princesa Teresa, filha do Arquiduque da Áustria, logo posta de lado pelo seu pai, por ser menor de idade. A opção seguinte recai sobre Maria Pia de Sabóia, então com 14 anos, e D. Luís apressa-se a pedir a sua mão em casamento a seu pai, Victor Manuel. Numa carta dirigida ao rei português, o pai de Maria Pia escreve: O pedido que Vossa Majestade acaba de me fazer da mão da minha filha tocou vivamente o meu coração de rei e de pai (...) antes de vos responder quis falar do assunto a minha filha que expressou o seu inteiro consentimento (...) é um acto que será acolhido com entusiasmo na Itália onde a recordação ainda recente da nobre e afectuosa hospitalidade dada a meu pai (Carlos Alberto) por Portugal desperta tantas simpatias e faz bater todos os corações.
Este enlace não foi muito bem visto por algumas cortes europeias, receosas de que o espírito liberal defendido pelo pai da noiva e a sua ligação a Napoleão III, pudesse por em causa a frágil harmonia existente nas cortes europeias. No entanto a reacção mais dura veio da amiga rainha Vitória que escreveu ao rei D.Luís dizendo que, como vós já fizestes a vossa escolha eu não tenho mais nada a dizer...esperamos sempre que ela possua todas as qualidades necessárias para vossa mulher e para uma rainha! Apesar de todos os receios devidos à sua extrema juventude, Maria Pia mostrou estar à altura do seu papel de futura rainha. O tempo de noivado foi preenchido com a de troca de cartas e telegramas enamorados, envio de retratos e de madeixas de cabelo em pequenos medalhões. Mesmo antes de se conhecerem pessoalmente já nutriam de grande afeição um pelo outro, partilhando gostos comuns tais como a leitura e a música. Na última troca de cartas Maria Pia escreve sou toda tua, para toda a vida e D.Luís refere que desejava que o nosso primeiro encontro fosse o menos observado possível (...) e de te poder dizer, enfim, eu estou junto da minha bem amada Maria.
Mas os desejos do rei não foram realizados e a princesa Maria Pia (já rainha de Portugal, por ter casado por procuração a 27 de Setembro), chega a Lisboa a 5 de Outubro de 1862, a bordo da corveta Bartolomeu Dias, onde é recebida por milhares de pessoas delirantes numa cidade em festa. Foi a bordo dessa corveta que os noivos finalmente se conheceram, dando inicio a uma relação construída num amor verdadeiro. No dia seguinte, a rainha Maria Pia finalmente pisa solo português, e a primeira coisa que avista é a frase DA BELA ITÁLIA ESTRELA SOBERANA, SEJAIS BEM VINDA À PRAIA LUSITANA, da autoria de António Feliciano de Castilho (escritor português). A comitiva real segue depois em cortejo até à igreja de São Domingos, onde é realizada a cerimónia de rectificação do casamento, e o país permanece em festa por mais três dias, em honra do novo casal real. A nova rainha de Portugal, apesar dos seus quinze anos, rapidamente conquistou o coração dos seus súbditos, pelo seu porte majestoso, pela sua generosidade, revelando desde logo a sua cultura, a sua inteligência e a vontade de promover a educação no país que a acolheu como rainha.
Deste casamento iriam nascer D.Carlos I, futuro rei de Portugal, no dia 28 de Setembro de 1863 e D. Afonso, no dia 31 de Julho de 1865, Duque do Porto. Rainha sempre afável e conhecedora do protocolo rígido da corte portuguesa, manteve-se sempre atenta às questões politicas que envolviam o marido. Ficou célebre a frase que dirigiu ao Duque de Saldanha, líder de uma tentativa de golpe militar, no momento em foi apresentar desculpas ao rei: Se eu fosse o rei mandava-o fuzilar! Mãe sempre atenta e carinhosa, ocupou-se pessoalmente da educação dos seus filhos. No dia 2 de Outubro de 1873 D. Maria Pia passeava com os filhos na praia de Cascais, quando uma onda arrasta os dois príncipes para o mar. Sem pensar a rainha lança-se à água, na tentativa de salvar os filhos, mas foi graças à intervenção do ajudante do faroleiro da Guia, que os três se salvaram. A faceta de mãe era superior ao papel de rainha. Sempre atenta aos mais carenciados deixou obras notáveis: criou uma comissão para ajudar as vítimas do terrível inverno de 1876, tendo conseguido arrecadar 200 000$00 réis, proporcionando casas e roupas a todos os que tinham perdido os haveres nas grandes cheias; fundou a 1 de Novembro de 1877 a creche Victor Manuel na Tapada da Ajuda, para acolher as crianças com maiores necessidades; quando um terrível incêndio destruiu por completo o Teatro Baquet na cidade do Porto, em 1888, causando mais de uma centenas de vítimas, a rainha acompanhada do seu filho mais velho viajou de comboio numa noite de inverno, para poder assistir às exéquias das vítimas. Visitou todas as casas dos familiares das vitimas, pobres e ricas, distribuindo palavras de conforto e prestando apoio financeiro.
As gentes do Porto nunca mais se esqueceram da sua rainha, e homenagearam-na dando o seu nome ao hospital de pediatria do Porto, Hospital Real de Crianças Maria Pia, e à ponte de comboio que ligava as margens do Douro, a Ponte Maria Pia. No entanto não deixava de ser rainha e de se comportar como rainha. Os seus gastos eram considerados exorbitantes e foram muito criticados pelos políticos de então, ao que ela rapidamente respondeu com mais uma frase histórica quem quer rainhas, paga-as! No ano de 1889, surge a primeira tragédia na vida de Maria Pia. D. Luís morre no dia 19 de Outubro, e a rainha cai numa terrível depressão, e afasta-se para o Palácio da Ajuda onde fica a viver sozinha, cedendo o protagonismo o seu filho D. Carlos I, rei de Portugal e à sua mulher, a nova Rainha D. Amélia. Sabe-se que a relação entre a rainha-mãe e a rainha D. Amélia não era das melhores, mas a convivência era pacífica, a os netos eram a alegria da vida de Maria Pia. Como rainha-mãe vive uma vida mais discreta, continuando a desenvolver a sua obra social e de beneficência, tendo recebido muitas condecorações nacionais e internacionais pela sua acção benemérita. Mas é com 61 anos que sofre a maior tragédia da sua vida, quando a 1 de Fevereiro de 1908, vê morrer o seu filho Carlos, rei de Portugal, e o seu neto, príncipe herdeiro, Luís Filipe, num atentado perpetrado pela Carbonária. O Terreiro do Paço, que anos antes tinha sido palco da sua calorosa recepção, tornava-se no palco onde ocorreu o mais trágico acto da sua vida. Maria Pia cai num estado de dor e de agonia profunda, da qual nunca mais recupera.
No dia 5 de Outubro de 1910, logo após a implantação da República em Portugal, e em companhia do seu único neto D. Manuel II, rei deposto, é exilada para a sua terra natal, a cidade de Turim. Estranha coincidência: chega a Portugal a 5 de Outubro de 1862, onde é aclamada como rainha por uma cidade exultante, e é obrigada a fugir de um país que tornou seu, 48 anos depois no mesmo dia 5 de Outubro. Morre na sua cidade natal e de exílio, com 63 anos no dia 5 de Julho de 1911 mas antes de falecer dita as seguintes palavras como desejo final: Chegou a minha vez de morrer. Como último desejo peço que me virem na direcção de Portugal, o país que me encheu de alegria o coração de menina e me tirou tudo o que de mais sagrado tinha quando mulher. Olhando para trás, reconheço que a minha vida foi marcada pela tragédia. Vi partir uma mãe cedo de mais (...). Não me consegui despedir do meu pai, enterrei um marido (...) um filho em quem depositava todas as esperanças, um neto adorado. Claro que também tive momentos de felicidade. Quando sonhava acordada (...) com príncipes e casamentos perfeitos, quando cheguei a Lisboa e o povo gritava o meu nome, quando viajava por essa Europa fora de braço dado com Luís, quando brincava no paço com os meus filhos ou quando estendia as mãos para ajudar os mais necessitados, abrindo creches e asilos. Mas mesmo nestas alturas havia quem me apontasse o dedo. Maria Pia a gastadora, a esbanjadora do erário público. A que dava festas majestáticas no paço, a que ia a Paris comprar os tecidos mais caros e as jóias mais exuberantes. Não percebiam eles que assim preenchia o vazio que, aos poucos, se ia instalando no meu coração (in Eu, Maria Pia de Diana de Cadaval).
Sepultada na Basílica de Superga, em Turim, ainda se aguarda a realização do seu último desejo: ser sepultada junto do seu marido e filhos, no Panteão de São Vicente de Fora, em Lisboa. Cem anos passaram desde a sua morte, e o desejo da menina rainha que se fez mulher em Portugal, permanece por cumprir.
Este enlace não foi muito bem visto por algumas cortes europeias, receosas de que o espírito liberal defendido pelo pai da noiva e a sua ligação a Napoleão III, pudesse por em causa a frágil harmonia existente nas cortes europeias. No entanto a reacção mais dura veio da amiga rainha Vitória que escreveu ao rei D.Luís dizendo que, como vós já fizestes a vossa escolha eu não tenho mais nada a dizer...esperamos sempre que ela possua todas as qualidades necessárias para vossa mulher e para uma rainha! Apesar de todos os receios devidos à sua extrema juventude, Maria Pia mostrou estar à altura do seu papel de futura rainha. O tempo de noivado foi preenchido com a de troca de cartas e telegramas enamorados, envio de retratos e de madeixas de cabelo em pequenos medalhões. Mesmo antes de se conhecerem pessoalmente já nutriam de grande afeição um pelo outro, partilhando gostos comuns tais como a leitura e a música. Na última troca de cartas Maria Pia escreve sou toda tua, para toda a vida e D.Luís refere que desejava que o nosso primeiro encontro fosse o menos observado possível (...) e de te poder dizer, enfim, eu estou junto da minha bem amada Maria.
Mas os desejos do rei não foram realizados e a princesa Maria Pia (já rainha de Portugal, por ter casado por procuração a 27 de Setembro), chega a Lisboa a 5 de Outubro de 1862, a bordo da corveta Bartolomeu Dias, onde é recebida por milhares de pessoas delirantes numa cidade em festa. Foi a bordo dessa corveta que os noivos finalmente se conheceram, dando inicio a uma relação construída num amor verdadeiro. No dia seguinte, a rainha Maria Pia finalmente pisa solo português, e a primeira coisa que avista é a frase DA BELA ITÁLIA ESTRELA SOBERANA, SEJAIS BEM VINDA À PRAIA LUSITANA, da autoria de António Feliciano de Castilho (escritor português). A comitiva real segue depois em cortejo até à igreja de São Domingos, onde é realizada a cerimónia de rectificação do casamento, e o país permanece em festa por mais três dias, em honra do novo casal real. A nova rainha de Portugal, apesar dos seus quinze anos, rapidamente conquistou o coração dos seus súbditos, pelo seu porte majestoso, pela sua generosidade, revelando desde logo a sua cultura, a sua inteligência e a vontade de promover a educação no país que a acolheu como rainha.
Deste casamento iriam nascer D.Carlos I, futuro rei de Portugal, no dia 28 de Setembro de 1863 e D. Afonso, no dia 31 de Julho de 1865, Duque do Porto. Rainha sempre afável e conhecedora do protocolo rígido da corte portuguesa, manteve-se sempre atenta às questões politicas que envolviam o marido. Ficou célebre a frase que dirigiu ao Duque de Saldanha, líder de uma tentativa de golpe militar, no momento em foi apresentar desculpas ao rei: Se eu fosse o rei mandava-o fuzilar! Mãe sempre atenta e carinhosa, ocupou-se pessoalmente da educação dos seus filhos. No dia 2 de Outubro de 1873 D. Maria Pia passeava com os filhos na praia de Cascais, quando uma onda arrasta os dois príncipes para o mar. Sem pensar a rainha lança-se à água, na tentativa de salvar os filhos, mas foi graças à intervenção do ajudante do faroleiro da Guia, que os três se salvaram. A faceta de mãe era superior ao papel de rainha. Sempre atenta aos mais carenciados deixou obras notáveis: criou uma comissão para ajudar as vítimas do terrível inverno de 1876, tendo conseguido arrecadar 200 000$00 réis, proporcionando casas e roupas a todos os que tinham perdido os haveres nas grandes cheias; fundou a 1 de Novembro de 1877 a creche Victor Manuel na Tapada da Ajuda, para acolher as crianças com maiores necessidades; quando um terrível incêndio destruiu por completo o Teatro Baquet na cidade do Porto, em 1888, causando mais de uma centenas de vítimas, a rainha acompanhada do seu filho mais velho viajou de comboio numa noite de inverno, para poder assistir às exéquias das vítimas. Visitou todas as casas dos familiares das vitimas, pobres e ricas, distribuindo palavras de conforto e prestando apoio financeiro.
As gentes do Porto nunca mais se esqueceram da sua rainha, e homenagearam-na dando o seu nome ao hospital de pediatria do Porto, Hospital Real de Crianças Maria Pia, e à ponte de comboio que ligava as margens do Douro, a Ponte Maria Pia. No entanto não deixava de ser rainha e de se comportar como rainha. Os seus gastos eram considerados exorbitantes e foram muito criticados pelos políticos de então, ao que ela rapidamente respondeu com mais uma frase histórica quem quer rainhas, paga-as! No ano de 1889, surge a primeira tragédia na vida de Maria Pia. D. Luís morre no dia 19 de Outubro, e a rainha cai numa terrível depressão, e afasta-se para o Palácio da Ajuda onde fica a viver sozinha, cedendo o protagonismo o seu filho D. Carlos I, rei de Portugal e à sua mulher, a nova Rainha D. Amélia. Sabe-se que a relação entre a rainha-mãe e a rainha D. Amélia não era das melhores, mas a convivência era pacífica, a os netos eram a alegria da vida de Maria Pia. Como rainha-mãe vive uma vida mais discreta, continuando a desenvolver a sua obra social e de beneficência, tendo recebido muitas condecorações nacionais e internacionais pela sua acção benemérita. Mas é com 61 anos que sofre a maior tragédia da sua vida, quando a 1 de Fevereiro de 1908, vê morrer o seu filho Carlos, rei de Portugal, e o seu neto, príncipe herdeiro, Luís Filipe, num atentado perpetrado pela Carbonária. O Terreiro do Paço, que anos antes tinha sido palco da sua calorosa recepção, tornava-se no palco onde ocorreu o mais trágico acto da sua vida. Maria Pia cai num estado de dor e de agonia profunda, da qual nunca mais recupera.
No dia 5 de Outubro de 1910, logo após a implantação da República em Portugal, e em companhia do seu único neto D. Manuel II, rei deposto, é exilada para a sua terra natal, a cidade de Turim. Estranha coincidência: chega a Portugal a 5 de Outubro de 1862, onde é aclamada como rainha por uma cidade exultante, e é obrigada a fugir de um país que tornou seu, 48 anos depois no mesmo dia 5 de Outubro. Morre na sua cidade natal e de exílio, com 63 anos no dia 5 de Julho de 1911 mas antes de falecer dita as seguintes palavras como desejo final: Chegou a minha vez de morrer. Como último desejo peço que me virem na direcção de Portugal, o país que me encheu de alegria o coração de menina e me tirou tudo o que de mais sagrado tinha quando mulher. Olhando para trás, reconheço que a minha vida foi marcada pela tragédia. Vi partir uma mãe cedo de mais (...). Não me consegui despedir do meu pai, enterrei um marido (...) um filho em quem depositava todas as esperanças, um neto adorado. Claro que também tive momentos de felicidade. Quando sonhava acordada (...) com príncipes e casamentos perfeitos, quando cheguei a Lisboa e o povo gritava o meu nome, quando viajava por essa Europa fora de braço dado com Luís, quando brincava no paço com os meus filhos ou quando estendia as mãos para ajudar os mais necessitados, abrindo creches e asilos. Mas mesmo nestas alturas havia quem me apontasse o dedo. Maria Pia a gastadora, a esbanjadora do erário público. A que dava festas majestáticas no paço, a que ia a Paris comprar os tecidos mais caros e as jóias mais exuberantes. Não percebiam eles que assim preenchia o vazio que, aos poucos, se ia instalando no meu coração (in Eu, Maria Pia de Diana de Cadaval).
Sepultada na Basílica de Superga, em Turim, ainda se aguarda a realização do seu último desejo: ser sepultada junto do seu marido e filhos, no Panteão de São Vicente de Fora, em Lisboa. Cem anos passaram desde a sua morte, e o desejo da menina rainha que se fez mulher em Portugal, permanece por cumprir.
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