Quando falamos sobre a história do telefone surge-nos logo um nome a ele associado: Bell. Alexander Graham Bell, um escocês nascido em Edimburgo em 3 de Março de 1847, ficou de facto para a história como o inventor de tão afamado engenho. Segundo rezam as crónicas, Bell professor de fisiologia vocal e especializado em locução, conheceu Thomas Watson na firma de Charles Williams Jr, que produzia aparelhos e dispositivos de telégrafos. Bell pretendia aperfeiçoar o seu telégrafo harmónico de forma a transmitir simultaneamente 6 a 8 mensagens em código Morse. Se eu pudesse fazer com que uma corrente eléctrica variasse de intensidade da mesma forma que o ar vibra, ao emitir um som, eu poderia transmitir a palavra telegraficamente, afirmava Bell. Na tentativa de conseguir alcançar a sua ideia,testou vários aparelhos, construiu vários tipos de telégrafos harmónicos, tendo como seu assistente Watson. Na noite de 2 de Junho de 1875, Watson puxou por uma das cordas do telégrafo harmónico, que estava demasiado apertada e o som foi ouvido no receptor da sala contigua onde se encontrava Bell. Estava descoberta a base para a invenção do telefone. No dia 10 de Março de 1876, foi feita a primeira transmissão de voz através do recém-inventado telefone: Graham Bell encontrava-se, no último andar de uma hospedaria
em Boston e Watson trabalhava no piso
térreo . O telefone tocou, Watson atendeu e ouviu a voz de Bell dizer: Senhor Watson, venha cá. Preciso
falar-lhe. Em 14 de Fevereiro de 1876 a patente é registada em nome de Bell. Faltava espalhar a noticia da nova descoberta. Durante a Exposição Internacional do Centenário da Independência Americana, realizada em Filadélfia, um protótipo do telefone foi levado para ser apresentado aos juízes da Feira, mas Bell não conseguiu demonstrar o seu funcionamento, tal foi o desprezo a que foi votado.
Um dos ilustres visitantes da Feira, foi D.Pedro II, Imperador do Brasil, que conhecia o inventor por ter assistido uns anos antes a uma aula sua na Universidade de Boston para surdos-mudos. Ao ser cumprimentado por D.Pedro, aproveitou a sua presença e pediu-lhe que experimentasse o seu telefone. Utilizando um fio de cobre com o comprimento da sala, colocou o Imperador numa ponta com um auscultador e tendo ficado no lado oposto, numa sala mergulhada em silêncio, murmurou as seguintes palavras to be or not to be, that's the question e ouviu-se um grito admirado de D.Pedro olhando para o auscultador Meu Deus, isso fala!! Rapidamente o invento se popularizou e em menos de um ano foi criada a primeira empresa telefónica do mundo: Bell Telephone Company, em Boston, com 800 assinantes. A primeira rede pública surge a 26 de Abril de 1882 pela Empresa Edison Gower Bell Telephone Company of Europe.
Em Portugal o primeiro ensaio foi feito a 24 de Novembro de 1877, entre a Estação do Cabo, em Lisboa e Carcavelos. Em 1882 a exploração da Rede Telefónica de Lisboa e Porto é concedida à empresa Edison Gover Bell, ficando o Estado Português responsável pelas linhas do resto da País. A primeira lista telefónica portuguesa, tinha apenas 15 subscritores, entre eles os Bombeiros Voluntários de Lisboa, o Hotel Central, o Teatro D.Maria II, o Coliseu dos Recreios e o Jornal Comércio de Portugal. Em 1887 a concessão passa para as mãos da Anglo Portuguese Telephone Company, criada em parceria com a Inglaterra especificamente para o serviço telefónico Português. Só em 1967 surgem os Telefones de Lisboa e Porto - TLP - passando o Estado Português a ser responsável por todas as linhas telefónicas do País.
E quando a história parece estar a caminhar para o seu fim, eis que voltamos ao início do século XIX, mais propriamente ao ano de 1808, altura em que nasce em Florença, António Meucci, o verdadeiro inventor do telefone!
Foi estudante de Engenharia Química e Industrial na prestigiada Academia de Florença. Depois de ter tido passagem pelo Teatro Pergola em Florença como técnico de cenários, é preso em 1833 por ter participado nos Movimentos pela Unificação da Itália. Em 1835 emigra para Cuba, onde trabalha no Gran Teatro de Havana. É nesta cidade que um amigo médico lhe solicita ajuda para tratar de doentes com problemas de fala. Desenvolve um equipamento de aplicação de choques eléctricos, através de pequenos eléctrodos colocados na língua dos pacientes. Numa das sessões Meucci, consegue ouvir no seu receptor o gemido de um doente que estava numa sala distante. Nesse momento apercebe-se que a voz pode ser propagada por impulsos eléctricos. Estávamos em 1849! Na tentativa de desenvolver a sua descoberta, viaja com a mulher para os Estados Unidos da América, fixando-se em Clifton perto de Nova Iorque, onde montou uma pequena fábrica de produção de velas. Com o lucro que ia obtendo, tentava aperfeiçoar a sua descoberta. Em 1860 a mulher adoece gravemente e fica acamada, e numa tentativa de se manter em contacto permanente com ela, sem deixar de trabalhar, desenvolve o telégrafo falante ou originalmente chamado telettrofono. Com ele consegue falar da sua fábrica para o quarto da sua mulher, sem ter que se deslocar. Estava descoberto o telefone, em 1860, quase 17 anos antes de Bell!
Este invento foi noticiado no jornal de lingua italiana de Nova Iorque de nome L'Eco d' Italia. Segundo Meucci a sua invenção é constituída por um diafragma de vibração com uma haste magnética e electrificada, por um fio enrolado em torno dela. Quando
o diafragma vibra, altera a corrente da haste magnética. Estas
alterações, quando atingem a outra extremidade da
linha, causam vibrações semelhantes no diafragma que as recebe, reproduzindo as
palavras.Tentou que vários investidores patrocinassem o seu invento, sem sucesso, pois segundo os documentos da altura não viam grande utilidade num telégrafo que falasse. Como não tinha os 25 dólares necessários para registar a patente, entregou a proposta com a intenção de registo da patente, menos dispendiosa, a 28 de Dezembro de 1871, renovando o processo em 72 e 73. Num acidente durante uma viagem de barco a vapor, sofre queimaduras graves, tendo ficado internado durante vários meses no hospital. Para sobreviver a mulher, vende todos os protótipos do marido, por 6 dólares. Quando tenta reavê-los é-lhe dito que foram comprados por um jovem inventor...que até hoje não foi identificado. Não desistindo, Meucci constrói novamente os protótipos, mas quando tente novamente renovar o pedido de intenção de patente, é informado que uma patente de telefone já está registada. Iniciam-se anos de luta com Bell em tribunal para provar a autoria do seu invento, recheados de uma série de misteriosos acontecimentos (como o desaparecimento dos papéis do registo de intenção de patente) e injustiças, que não seriam credíveis se não estivessem tão bem documentados. O
tribunal considerou que Meucci não descreveu todos
os elementos de um telefone falante e (...) considerou que o dispositivo Meucci não era um telefone mecânico, consistindo apenas num bocal e num fone de ouvido conectado
por um fio, e que além disso a invenção de Meucci foi
apenas imaginação. António Meucci morre a 18 de Outubro de 1889, em Clifton, sem ter conseguido provar que a invenção do telefone tinha sido sua. Mas a memória faz perdurar a obra. Os anos passaram, mas Meucci não foi esquecido. Em 1990, numa cena do filme de Scorsese, o Padrinho III, a personagem interpretada por Joe Mantegna, Joey Zasa faz menção a Meucci, num dialogo com Michael Corleone: A Associação Meucci elegeu-te o homem italo-americano do
ano. - O Meucci. Quem é Meucci? - É o italo-americano que inventou o telefone. Ele fez
isso um ano antes de Alexander Graham. A placa da matricula do Cadilac de Joey Zasa tinha o nome de Meucci. Também na série Sopranos, Tony Soprano, interpretada por James Gandolfini, diz no oitavo episódio da primeira série: Antonio Meucci inventou o telefone, e ele foi
roubado! Toda a gente sabe disso!
E como muita gente de facto sabia, o Congresso dos Estados Unidos da América, na resolução 269 de 15 de Junho de 2002, afirma que a vida e os feitos de Antonio
Meucci devem ser conhecidos e seu trabalho na invenção do
telefone deve ser reconhecido. Se Meucci tinha sido capaz de pagar a taxa da patente tudo tinha sido diferente. Demorou mais de 120 anos, mas a justiça foi feita e a verdadeira história reposta. Não se pode negar o mérito da descoberta de Bell, mas como diz o ditado o seu a seu dono, sendo neste caso mais o telefone a seu dono!
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