O chá resulta da infusão de folhas, raízes ou flores em água quente, sendo actualmente a segunda bebida mais consumida em todo o Mundo, depois da água. O símbolo chinês para chá - 茶 - tem duas formas completamente distintas de se pronunciar. Uma provém da palavra malaia do dialecto Amoy: Tê, enquanto que a outra derivação fonética tem origem no mandarim e no cantonês: Ch'a. Desta duplicidade fonética surgiram as duas grandes divisões linguísticas para dizer chá. A derivada de Tê é utilizada, entre outras, pela língua inglesa, castelhana, francesa, italiana e hebraica ; a derivada de ch'a é utilizada pela língua portuguesa, japonesa, russa, romena, turca entre muitas outras. Segundo uma lenda chinesa o chá teve origem há 5000 anos, na China, aquando do
reinado do Imperador Shen Nung, um governante justo, amante das
artes e da ciência, que era conhecido como o Curandeiro Divino. O
Imperador, preocupado com as epidemias que devastavam o Império,
decretou num edital que todas as pessoas eram obrigadas a ferver a água antes de a
consumirem. Certo dia, quando o governador chinês passeava pelos seus
jardins, pediu aos seus criados que lhe fervessem água, enquanto descansava
debaixo da sombra de uma árvore. Enquanto esperava que a água arrefecesse,
algumas folhas vindas de uns arbustos caíram dentro do seu copo, atribuindo à
água uma tonalidade acastanhada. O Imperador decidiu provar, surpreendendo-se
com o sabor agradável e refrescante. Assim surgiu o chá!
Com lenda ou sem ela, o facto é que a origem do chá remonta à Dinastia Han (206 a.C a 220 d.C). Escavações arqueológicas encontraram nos seus túmulos recipientes próprios para a sua preparação. Originalmente feita pelos monges budistas, que utilizavam as folhas de um arbusto - Caméllia Sinensis - que crescia de forma selvagem na Cordilheira dos Himalaias, foi durante a Dinastia Tang na China (anos 618 a 906 d.C) que o chá se tornou a bebida oficial deste país. O primeiro livro sobre esta bebida, intitulado Ch'a Ching, foi escrito no século XIV por um monge budista de nome Lu Yu, que descreve os métodos de cultivo e de preparação do chá, usados no Império Chinês. O seu consumo espalhou-se rapidamente, tendo chegado ao Japão. No século XV os japoneses, que adoravam o chá, chegaram a tornar o seu consumo numa religião, chamada de Chaísmo que se baseava na adoração
do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. A
filosofia do Chá é mero esteticismo (...) porque exprime, conjuntamente com a
ética e a religião, todo o nosso ponto de vista a respeito do homem e da
natureza. É higiene, porque impõe limpeza, é economia, porque revela o conforto
que existe na simplicidade, mais do que no que é elaborado e caro; é geometria
moral na medida em que define o nosso sentido de proporção face ao universo.
Representa o verdadeiro espírito da democracia oriental, ao fazer de todos os
seus partidários, aristocratas no gosto. (OKAKURA, Kakuzo in O
Livro do Chá).
Quando em 1543 os portugueses chegaram ao Japão, depararam com esta bebida tão popular entre os japoneses, e para eles completamente desconhecida. A partir de 1560 o chá é trazido para o continente europeu pelos navegadores portugueses, tornando-se Portugal no primeiro país europeu a consumir chá. No entanto são os Holandeses, graças a um forte sentido comercial, que importaram da China o primeiro carregamento de chá, no início do século XVII. O seu consumo rapidamente se espalhou da Holanda para os restantes países europeus, sendo exclusivo das famílias abastadas, já que os seu preço era elevado. Em 1650, o chá chegou ao continente americano, quando os holandeses o introduziram na sua colónia Nova Amsterdão, a actual cidade de Nova Iorque. Apesar de haver alguns textos que provam que o chá terá sido introduzido em Inglaterra em 1579, por Christopher Borough, depois de uma expedição à Pérsia (segundo as enciclopédias britânicas), este era apenas consumido por trabalhadores, que quando não tinham alimentos para ingerir, bebiam um tipo de chá que se resumia a uma infusão de folhas de má qualidade ou mesmo folhas moídas, para enganar a fome.
Foi apenas em 1662, com o casamento de Catarina de Bragança, filha do rei D.João IV e de D. Luisa de Gusmão, com o rei Carlos II, que o chá é introduzido na corte inglesa. Conta a história, que Catarina de Bragança tendo chegado a Inglaterra combalida e com dores de garganta, pede uma bebida quente, sendo-lhe oferecida cerveja para acalmar a dor. São as aias da princesa que preparam uma infusão de chá, bebida muito apreciada pela noiva portuguesa. Inicia-se aqui o romance eterno entre os ingleses e o chá, que se torna na bebida predilecta dos súbditos de sua majestade. Inicialmente restrita às classes altas, chegou a ter um imposto de 119%, o que tornou a sua aquisição impensável pelas classes menos abastadas. Só em 1784, quando o primeiro ministro inglês William Pitt baixou o imposto para 12,5%, na tentativa de combater o mercado negro que se tinha desenvolvido com a compra de chá, é que o seu consumo se generalizou a toda a população.
Foi esta bebida que esteve na base da Boston Tea Party, quando a 13 de Dezembro de 1773 colonos na América protestaram contra o aumento do imposto sobre o consumo do chá e contra a exclusividade da sua venda pela Companhia Britânica das Índias Orientais, destruindo caixotes carregados de chá nas docas de Boston. Este facto constituiu um ponto de partida para a Revolução Americana, tendo-se tornando um acontecimento ícone na História dos Estados Unidos.
No inicio do século XX, Thomas Sullivan, um comerciante americano, introduziu a utilização de chá em saquetas, método de infusão que se propagou rapidamente por todo o mundo. Em Inglaterra apenas começaram a ser comercializadas em 1970! Actualmente são conhecidos mais de 3 mil tipos de chá. Como curiosidade, em 1961, os ingleses consumiam por ano cerca de 4536 kg de chá por pessoa. É caso para dizer, the last
will be the first!
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