Para compreender o título deste pequeno texto temos que recuar ao século XVIII e ao reinado de D.João V, de cognome o Magnânimo ou Rei-Sol Português. Portugal era nessa época uma das mais ricas e importantes nações europeias, e era considerada uma potência mundial. Possuía embaixadas em todas as cidades e uma das mais importantes era sem duvida a embaixada em Roma, na Curia Romana (curia em latim medieval significa corte real). D. João V enviou em missão diplomática, como Embaixador extraordinário junto do Papa Clemente XI, André de Mello e Castro, Conde das Galveas. A sua entrada em Roma é feita com grande pompa e circunstância, com 6 luxuosos coches, retratando o que transportava o Embaixador, a vida de Hércules conseguindo um aplauso unniversal dos Romanos e de todas as Nações, que se acham naquella grande Corte, onde fez uma tão magnifica e pomposa entrada, que a não vio maior Roma....(D. António Caetano de Sousa).
Possuidor de vastos conhecimentos religiosos, e doutorado em Coimbra, ficou responsável por todos os assuntos eclesiásticos e todas as negociações com a Cúria Romana passavam por ele. Sob a sua égide a Embaixada Portuguesa promovia faustosas festas, cheias de luxo e requinte. Representava fielmente o espírito do monarca português que achava que Portugal era a maior potência mundial. No livro "Pátria Portuguesa" de Júlio Dantas, podemos ler o diálogo entre o Cardeal de Lisboa e D. João V que espelha bem o espírito do monarca: Veio carta de André de Mello e Castro. Trata de vários assuntos. Diz que o título de Alteza Sereníssima para o Patriarca de Lisboa, será dificil de obter do Papa... Difícil? - D. João V, mordeu o beiço, carregou os sobrolhos, vincou duas rugas na testa alta, tornada mais alta ainda pela cabeleira vinda de França e repetiu: Dificil? Diga a André de Mello e Castro que eu não tenho Embaixadores, nem enviados extraordinários, para que se permitam achar dificil aquilo que eu desejo! Se Roma se vende caro, que a compre caro! Que atire oiro às mãos cheias a esses italianos, e quando já não tiver a quem dar, que o deite ao rio. Quero que os meus Ministros sejam espelho da minha grandeza, e não representantes de um Monarca arruinado! (...) O Cardeal tomou nota, imperturbável, com a pluma branca de ganso a tremer-lhe na mão. Era neste ambiente de grandeza e superioridade que os nobres portugueses viviam em Roma.
Durante umas festividades da cidade, o embaixador André de Mello e Castro, para homenagear a origem lusa, decidiu dar entrada grátis a todos os portugueses residentes na cidade, nos espectáculos e recepções do teatro Argentina, localizado no Largo da Torre Argentina, onde se localizava também a embaixada portuguesa. Para obter o ingresso sem pagamento, os portugueses apenas tinham que declarar a sua nacionalidade e era-lhes prontamente franqueada a entrada no recinto. A noticia foi-se espalhando rapidamente pela cidade, e os súbditos romanos, que segundo Stendhal, tinham um soberano que fazia a felicidade deles no céu e a sua desgraça na terra, começaram a acorrer em grande número ao Teatro Argentina, afirmando que eram portugueses para não pagarem bilhete. A afluência foi de tal forma grande que a expressão fare il portoghese - passar por português - ficou famosa. Ainda hoje esta expressão é usada pelos italianos de forma depreciativa, para designar aqueles que usufruem de um serviço sem pagar, mas o que a maioria não sabe é que a sua origem não define um subterfúgio de fuga a um pagamento, mas sim um antigo privilégio dos portugueses...que não tinham que pagar para entrar! De facto saber a origem das expressões populares é importante, pois ironicamente fare il portoghese retrata o comportamento astucioso dos romanos e não dos nascidos em terras lusas. Pena é, que este privilégio não tenha durado até aos nossos tempos!
Possuidor de vastos conhecimentos religiosos, e doutorado em Coimbra, ficou responsável por todos os assuntos eclesiásticos e todas as negociações com a Cúria Romana passavam por ele. Sob a sua égide a Embaixada Portuguesa promovia faustosas festas, cheias de luxo e requinte. Representava fielmente o espírito do monarca português que achava que Portugal era a maior potência mundial. No livro "Pátria Portuguesa" de Júlio Dantas, podemos ler o diálogo entre o Cardeal de Lisboa e D. João V que espelha bem o espírito do monarca: Veio carta de André de Mello e Castro. Trata de vários assuntos. Diz que o título de Alteza Sereníssima para o Patriarca de Lisboa, será dificil de obter do Papa... Difícil? - D. João V, mordeu o beiço, carregou os sobrolhos, vincou duas rugas na testa alta, tornada mais alta ainda pela cabeleira vinda de França e repetiu: Dificil? Diga a André de Mello e Castro que eu não tenho Embaixadores, nem enviados extraordinários, para que se permitam achar dificil aquilo que eu desejo! Se Roma se vende caro, que a compre caro! Que atire oiro às mãos cheias a esses italianos, e quando já não tiver a quem dar, que o deite ao rio. Quero que os meus Ministros sejam espelho da minha grandeza, e não representantes de um Monarca arruinado! (...) O Cardeal tomou nota, imperturbável, com a pluma branca de ganso a tremer-lhe na mão. Era neste ambiente de grandeza e superioridade que os nobres portugueses viviam em Roma.
Durante umas festividades da cidade, o embaixador André de Mello e Castro, para homenagear a origem lusa, decidiu dar entrada grátis a todos os portugueses residentes na cidade, nos espectáculos e recepções do teatro Argentina, localizado no Largo da Torre Argentina, onde se localizava também a embaixada portuguesa. Para obter o ingresso sem pagamento, os portugueses apenas tinham que declarar a sua nacionalidade e era-lhes prontamente franqueada a entrada no recinto. A noticia foi-se espalhando rapidamente pela cidade, e os súbditos romanos, que segundo Stendhal, tinham um soberano que fazia a felicidade deles no céu e a sua desgraça na terra, começaram a acorrer em grande número ao Teatro Argentina, afirmando que eram portugueses para não pagarem bilhete. A afluência foi de tal forma grande que a expressão fare il portoghese - passar por português - ficou famosa. Ainda hoje esta expressão é usada pelos italianos de forma depreciativa, para designar aqueles que usufruem de um serviço sem pagar, mas o que a maioria não sabe é que a sua origem não define um subterfúgio de fuga a um pagamento, mas sim um antigo privilégio dos portugueses...que não tinham que pagar para entrar! De facto saber a origem das expressões populares é importante, pois ironicamente fare il portoghese retrata o comportamento astucioso dos romanos e não dos nascidos em terras lusas. Pena é, que este privilégio não tenha durado até aos nossos tempos!
Nota: Este acontecimento está retratado num livro intitulado o Barco Pescarejo de José Coutinhas (2005).
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