Percorrendo montanhas e
planaltos, serpenteando por vales verdejantes e luxuriantes, o rio Lima nasce a
uma altitude de 975 metros no monte galego de Talariño
na Província de Ourense, para desaguar no oceano Atlântico junto à
costa da portuguesa cidade de Viana do Castelo, após calcorrear aproximadamente
110 quilómetros. Viajando por paisagem galegas e minhotas, o Lima tem
o privilégio de ter nas suas margens locais como Lindoso, Ponte de
Lima e Ponte da Barca. (...) todo o Lima na grande extensão desde
Ponte de Lima a Viana, é espraiado, com as margens atapetadas de verdura,
matizado de lugarejos, cheio de vida, de sorrisos, de amor (António Costa, No
Minho, 1874). Denominado de Limia na Galiza, deve
provavelmente o seu nome à grande quantidade de lamarões (lamaçais) e
lagoas que existiam na sua nascente, denominados de lymnas em
grego e lymun em latim, donde derivou o nome Lima em
português. De águas límpidas e calmas era conhecido pela fartura de
salmões, trutas, lampreias e sáveis que as populações das suas margens pescavam
em grande quantidade. Também denominado de Belion pelo
geógrafo grego Estrabão, que significava nativo (os lusitanos foram também
designados por belitanos), foi durante muito tempo designado por rio Lethes (latim) ou Oblivio (grego), o
rio do Esquecimento. De acordo com a mitologia grega, as
almas que chegavam ao mundo dos mortos, o Hades, e que depois do
julgamento final vagueavam pelos Campos Elísios, deviam beber da água do Rio Lethes para que toda a memória da sua
vida anterior fosse apagada. Só assim podiam
voltar ao mundo dos vivos, ou seja, ressuscitar. De acordo com
a tradição grega, o Lethes era um dos cinco rios do Hades,
com águas de grande beleza e calma, situado a Ocidente, para
lá do mundo conhecido (Conde de Bertiandos, 1898). Associado
a esta mitologia, um acontecimento histórico veio ainda acentuar a ideia de que
o rio Lima era de facto o rio Lethes ou do Esquecimento, que condenava todos
aqueles que atravessassem ou bebessem as suas águas à perda das suas
memórias. Na sua narrativa Estrabão geógrafo grego
indica que nas cercanias do actual cabo Finisterra, se encontravam Celtas que
para aí se haviam deslocado na companhia de Túrdulos, durante uma expedição
guerreira (para a conquista conjunta da Galiza, século VII aC.). No
entanto, e ainda segundo Estrabão, chegados ao rio Lima, mal o haviam passado
gerou-se entre eles tal discórdia que, morrendo o chefe dos Túrdulos, e
esquecidos da aliança que haviam feito, tiveram que ficar no mesmo sítio
esquecendo o caminho para a sua antiga pátria. Por isso mesmo, explicava ainda
Estrabão, ao Rio Lima se chama também Rio do Esquecimento (Joel
CLETO, Monte Murado, Carvalhos, in A mais velha aliança, O Comércio do
Porto, Revista Domingo, Porto, 11 de Fevereiro 2001). O rio Lima
passou a ser uma fronteira intransponível e uma muralha natural
de protecção contra os ataques e incursões dos povos inimigos. O medo e a
superstição impediam os exércitos de passar para a outra margem do rio e
durante anos as suas águas foram intransponíveis.
No ano 137 aC. as legiões romanas comandadas por Decimus Junius Brutus, depois de terem conquistado a Lusitânia dirigiam-se para a Galiza no seu ímpeto conquistador. Chegados às margens do rio Lima os soldados romanos, cientes do nome do rio e do efeito mítico das suas águas desobedeceram por isso às ordens do seu comandante, quando este lhes ordenou que atravessassem para a outra margem. Nenhum soldado quis correr o risco de esquecer a sua vida passada, a sua família ou a sua terra Natal. Assim, Decimus Junius Brutus viu-se obrigado a fazer a travessia sozinho. Uma vez chegado à margem norte, chamou os seus homens um a um pelos seus nomes, provando desta forma que as águas do Lima não conduziam ao esquecimento do passado (Conde de Bertiandos, 1898). O mito caiu e o rio Lima deixou de ser uma muralha intransponível, mas o nome manteve-se durante muitos mais anos. Almada Negreiros pintou uma tapeçaria em que retrata a legião romana a passar o rio do esquecimento que ele próprio descreve por palavras suas: Comandadas por Decius Junius Brutus, as hostes romanas atingiram a margem esquerda do Lima no ano 135 a.C. A beleza do lugar as fez julgarem-se perante o lendário rio Lethes, que apagava todas as lembranças da memória de quem o atravessasse. Os soldados negaram-se a atravessá-lo. Então, o comandante passou e, da outra margem, chamou a cada soldado pelo seu nome. Assim lhes provou não ser esse o rio do Esquecimento. Qualquer que seja o nome que se lhe atribua, o rio Lima é um rio repleto de história. Nas suas águas viajaram ao longo dos séculos homens e mulheres de diferentes origens e condições sociais e fizeram-se importantes trocas comerciais.
Em 2003 foram recuperadas do seu leito duas pirogas monóxilas (feitas de um único tronco de árvore) datadas do século IV e II aC. Estes achados estão claramente relacionados com uma tradição multimilenar (...) de passagem do rio (Francisco Alves e Eric Rieth, Lisboa 2007).
No ano 137 aC. as legiões romanas comandadas por Decimus Junius Brutus, depois de terem conquistado a Lusitânia dirigiam-se para a Galiza no seu ímpeto conquistador. Chegados às margens do rio Lima os soldados romanos, cientes do nome do rio e do efeito mítico das suas águas desobedeceram por isso às ordens do seu comandante, quando este lhes ordenou que atravessassem para a outra margem. Nenhum soldado quis correr o risco de esquecer a sua vida passada, a sua família ou a sua terra Natal. Assim, Decimus Junius Brutus viu-se obrigado a fazer a travessia sozinho. Uma vez chegado à margem norte, chamou os seus homens um a um pelos seus nomes, provando desta forma que as águas do Lima não conduziam ao esquecimento do passado (Conde de Bertiandos, 1898). O mito caiu e o rio Lima deixou de ser uma muralha intransponível, mas o nome manteve-se durante muitos mais anos. Almada Negreiros pintou uma tapeçaria em que retrata a legião romana a passar o rio do esquecimento que ele próprio descreve por palavras suas: Comandadas por Decius Junius Brutus, as hostes romanas atingiram a margem esquerda do Lima no ano 135 a.C. A beleza do lugar as fez julgarem-se perante o lendário rio Lethes, que apagava todas as lembranças da memória de quem o atravessasse. Os soldados negaram-se a atravessá-lo. Então, o comandante passou e, da outra margem, chamou a cada soldado pelo seu nome. Assim lhes provou não ser esse o rio do Esquecimento. Qualquer que seja o nome que se lhe atribua, o rio Lima é um rio repleto de história. Nas suas águas viajaram ao longo dos séculos homens e mulheres de diferentes origens e condições sociais e fizeram-se importantes trocas comerciais.
Em 2003 foram recuperadas do seu leito duas pirogas monóxilas (feitas de um único tronco de árvore) datadas do século IV e II aC. Estes achados estão claramente relacionados com uma tradição multimilenar (...) de passagem do rio (Francisco Alves e Eric Rieth, Lisboa 2007).
O rio
Lima mais do que uma fronteira intransponível tornou-se numa via de comunicação
e de ligação dos povos. Como muito bem descreve o Professor Eugénio de Castro
Caldas este rio minhoto, transmite um sentimento que deveria fazer parte de
todos de aqueles que são descendentes dos que viveram nas suas margens
Ser minhoto é ser Celta;
Castrejo Galaico, pouco Lusitano;
mais Suevo do que Vizigodo; nada Mouro.
Aragem do Atlântico sobre o Mediterrâneo.
Do berço de Portugal, não da colónia
Se perguntar se é bem ou mal,
julgo que é apenas tal e qual:
mais enxada do que charrua,
mais regadio do que sequeiro,
mais prado do que pousio,
mais trabalho do que terra.
De mitologia e de realidade, de memórias e tradições, de
alegrias e de perdas estão repletas as águas deste rio, e apesar do nome que durante tantos anos ostentou, se pararmos perto das suas margens e em silêncio escutarmos com atenção o seu murmurar, decerto que ficaremos encantados com aquilo que tem para nos contar. Basta sabermos ouvir!
Nota: A imagem da piroga, da autoria de Francisco Alves e Miguel Aleluia, foi retirada do estudo de Francisco Alves e Eric Rieth, intitulado As pirogas 4 e 5 do Rio Lima, Lisboa 2007
Nota: A imagem da piroga, da autoria de Francisco Alves e Miguel Aleluia, foi retirada do estudo de Francisco Alves e Eric Rieth, intitulado As pirogas 4 e 5 do Rio Lima, Lisboa 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário