quarta-feira, 21 de março de 2012

Biblioteca Municipal do Porto: um lugar familiar

A Real Biblioteca Pública da cidade do Porto, actual Biblioteca Municipal do Porto, foi oficialmente inaugurada no dia 9 de Julho de 1833, por D. Pedro IV, Duque de Bragança. O País e em especial a cidade do Porto, atravessava nessa altura momentos de grande instabilidade, com as lutas liberais e grandes mudanças politicas, mas mesmo assim D. Pedro mandou publicar um Decreto na "Chrónica Constitucional do Porto" onde declarava que será estabelecida nesta mui antiga e mui leal cidade do Porto, uma livraria com o titulo de Real Bibliotheca Publica da Cidade do Porto. O Hospício dos Franciscanos, localizado na Cordoaria, acolheu a Biblioteca que só abriu as sua portas ao público 4 de Abril de 1842, remontando a esta época o retrato do rei que ainda hoje se conserva na Biblioteca. Mas foi o antigo convento de Santo António construído no século XVIII, doado à Câmara em 1839, que deu lugar a um edifício repleto de histórias e um sem fim de obras literárias. Os fundos primitivos foram constituídos pelas obras pertencentes às bibliotecas dos Conventos, incorporadas nos bens nacionais na sequência da legislação do Governo Liberal que suprimiu as Ordens e as Congregações religiosas, pelas colecções "sequestradas" a particulares conservadores, e também com um exemplar de toda e qualquer obra impressa em Portugal.  Ao longo dos anos as colecções da Biblioteca foram sendo sucessivamente enriquecidas por doações, permutas e aquisições. Em 1876, D. Luís transformou-a em Biblioteca Municipal. É uma das três principais Bibliotecas do País, sendo a maior e a mais antiga Biblioteca Pública Municipal Portuguesa, assumindo graças à riqueza do seu espólio, um carácter nacional e mesmo internacional, o que transcende o papel comum de uma biblioteca dita Municipal. Entrando na Biblioteca somos confrontados com mais de 20 quilómetros de livros para percorrer,cerca de um milhão e trezentos mil documentos, divididos em três pisos. As paredes são forradas com azulejos dos séculos XVI e XVIII, provenientes dos vários Conventos extintos. São corredores e corredores repletos de cultura e história que desembocam num claustro onde existe um relaxante jardim. Do seu espólio destacam-se pela sua importância e carácter único, o fundo manuscrito de Santa Cruz de Coimbra, uma Bíblia do século XIII e o Foral Manuelino do Porto de 1517. 
Como bibliotecários ilustres destacam-se Alexandre Herculano, que durante o Cerco do Porto, trabalha na organização da Biblioteca e Fulgêncio José Lopes da Silva, o meu avô! Pode parecer uma falta de modéstia minha colocar o meu avô, que chegou a 1º Bibliotecário em 1947, num patamar semelhante ao grande Alexandre Herculano! Mas foi o Sr. Fulgêncio que durante mais de 40 anos "viveu" aquela Biblioteca.Segundo as palavras do jornalista Ercílio de Azevedo, num artigo do Jornal "A Capital" de 29 de Janeiro de 1969 sem o Sr. Fulgêncio o velho edificio de S. Lázaro seria quanto muito um armazém de livros; com ele era um ser vivo e activo, dispensador de cultura e de vida aos que nele descobriam o mundo da sabedoria. Os estudiosos procuravam-no, os eruditos consultavam-no, os jovens acatavam os seus conselhos como se fossem versões fidedignas das tábuas da lei...estou em crer que não havia livro que a sua memória não tivesse catalogado (...) com ele aprendi a ter fé na vida, uma fé louca e absurda...e a descobrir o mundo do sonho na aridez do presente, nos longes do futuro e nas brumas da distância por entre os vagalhões da vida. O Sr. Fulgêncio, licenciado em Farmácia, vivia os livros como ninguém. Recebeu a medalha de Ouro da cidade do Porto pelos serviços prestados à cidade e tem no salão nobre da "sua" Biblioteca um quadro pintado por Agostinho Salgado, onde ficou imortalizado com o seu comprido casaco soerguido pelo braço, o chapelão preto e ondulado colocado de través, o jeito infantil de inclinar a cabeça sobre o ombro...só ali falta o "definitivo" que constantemente lhe ardia nos dedos requeimados. Como disse Jaime de Almeida no seu artigo intitulado "Morte de um Homem fora de moda" o Sr. Fulgêncio foi um Homem singular um pai e avô de quem se podem orgulhar".

2 comentários:

  1. Mais uma magnífica crónica, miúda! Tás a tomar-lhe o gosto...

    Toni

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    1. Falar sobre pessoas como o Sr. Fulgêncio, torna tudo fácil...

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