Profissões que já desapareceram, outras que ainda existem...retrato de um Portugal antigo cheio de histórias que vão desaparecendo.
sexta-feira, 30 de março de 2012
quarta-feira, 28 de março de 2012
Ponte de Cavez: A Fronteira



terça-feira, 27 de março de 2012
Expressões Populares: regresso ao Passado

Casa da mãe Joana - expressão de língua portuguesa que descreve um lugar ou situação onde vale tudo, não existe ordem e onde predomina a confusão, a desordem e a balbúrdia. A sua origem remonta ao século XIV e deve-se a Joana de Nápoles que viveu na Idade Média, entre 1326 e 1382, tendo sido Rainha de Nápoles e Condessa de Provença. Em 1346 passa a residir em Avignon, França, e no ano seguinte regulamentou os bordéis da cidade e uma das suas normas dizia que " o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar". Os bordéis passaram a ser designados por casa da mãe Joana.Transposta para Portugal passou a descrever um local onde todos podem entrar sem necessidade de autorização, onde todos fazem o que querem e onde não há qualquer disciplina ou organização.
De mãos a abanar - A origem para esta expressão está relacionada com os imigrantes que chegavam ao Brasil no século 19. Eles costumavam trazer da Europa ferramentas para o cultivo da terra, como foices e enxadas, além de animais, como vacas e porcos. Uma ferramenta poderia indicar uma profissão, uma habilidade, demonstrava disposição para o trabalho. O contrário, chegar de mãos a abanar, indicava preguiça e sem vontade para trabalhar. Actualmente, quando uma pessoa vai a uma festa, mandam os bons modos que leve um presente. Se não o faz, diz-se que chegou de mãos a abanar.

Para Inglês ver - Apesar de haver algumas versões para a origem desta expressão a mais aceite remonta ao tempo de D.Pedro IV. O Governo Regencial, que administrava o Brasil enquanto o príncipe D.Pedro II do Brasil não atingisse a maioridade, promulgou uma lei em 1831, que declarava livres todos os africanos que chegassem ao Brasil em navios traficantes de escravos, de forma a satisfazer os ingleses que lutavam ferozmente para que a escravidão fosse abolida. Os ingleses lideravam o consumo do café brasileiro. Mas o sentimento geral era de que a lei nunca seria cumprida, circulando na Corte e na Câmara dos Deputados, que o regente Feijó fizera uma lei apenas para Inglês ver. Esta expressão passou então a ser usada para designar leis que só existem no papel como também todas as coisas feitas apenas para preservar as aparências, sem que efectivamente ocorra.
Tirar o cavalinho da chuva - Esta expressão que significa desistir de um intento, perder ilusões, abandonar uma ideia, teve origem no inicio do século XIX. No interior o transporte mais comum era o cavalo. Quando uma visita era breve o cavalo era deixado ao relento, em frente à casa do anfitrião. Se visita fosse demorada o cavalo era colocado num local protegido da chuva. No entanto o convidado só poderia colocar o seu cavalo num local abrigado se o anfitrião quisesse prolongar a sua estadia e a visita fosse agradável dizendo "pode tirar o seu cavalo da chuva que você ainda vai por cá demorar". Com o tempo o sentido da expressão alterou-se e passou a designar situações em que se abandonava uma intenção ou um propósito, e a palavra cavalo adquiriu um sentido irónico passando a cavalinho.
Vai pentear macacos - Teve origem no provérbio português "mal grado haja a quem asno penteia", que aparece pela primeira vez registado num documento em 1651. Nessa época escovar ou pentear animais de carga como burros e jumentos era considerada uma tarefa inglória, pois estes animais não necessitavam de ter boa aparência para realizar o trabalho de carga a que estavam destinados. Vai pentear macacos é a adaptação brasileira desse ditado português . Os portugueses até meados do século XVII desconheciam o termo macaco, e utilizavam a palavra bugio para se referir a esse animal e criaram a expressão vai bugiar, que tem um significado semelhante ao vai pentear macacos, que ainda hoje é utilizada em Portugal e em algumas localidades no Brasil. Todas elas têm o mesmo significado.
Sem eira nem beira - Refere-se a pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Esta expressão pode ter ainda outra explicação. Antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando assim sem eira nem beira.
Ao Deus dará - Expressão que surgiu como resposta tradicionalmente dada aos que estendiam a mão à caridade pública. Ao pedido: "Uma esmolinha, pelo amor de Deus" - a resposta era invariavelmente "Deus dará", e que depois passou a ser "Deus o favoreça." Os autores portugueses Gomes Monteiro e Costa Leão, em "A Vida Misteriosa das Palavras", dizem que, no século XVII, viveu no Recife um negociante português que, de tanto usar aquelas duas palavras, passou a chamar-se Manuel Álvares Deus Dará. O nome passou para o seu filho, Simão Álvares Deus Dará, que exerceu o cargo de provedor-mor da Fazenda do Brasil. Estar ao Deus dará é estar na miséria, entregue à sorte, sem nenhuma ajuda dos homens e podendo contar apenas com a protecção celestial.
Fechado a sete chaves - No século XIII, eram usadas arcas para guardar jóias e documentos da corte de Portugal. Cada arca tinha quatro fechaduras e era aberto por quatro chaves diferentes, distribuídas pelos altos funcionários do Reino. Com o tempo, as arcas caíramem desuso. E algo que antes estava bem fechado a quatro chaves, passou a ser fechado a sete chaves, devido ao misticismo associado ao número 7. Esse misticismo teve origem nas religiões primitivas babilónicas e egípcias, que faziam o culto dos sete planetas conhecidos na época. Assim, a expressão fechar a sete chaves está relacionada ao acto de guardar algo com segurança e sob sigilo absoluto.

Vai pentear macacos - Teve origem no provérbio português "mal grado haja a quem asno penteia", que aparece pela primeira vez registado num documento em 1651. Nessa época escovar ou pentear animais de carga como burros e jumentos era considerada uma tarefa inglória, pois estes animais não necessitavam de ter boa aparência para realizar o trabalho de carga a que estavam destinados. Vai pentear macacos é a adaptação brasileira desse ditado português . Os portugueses até meados do século XVII desconheciam o termo macaco, e utilizavam a palavra bugio para se referir a esse animal e criaram a expressão vai bugiar, que tem um significado semelhante ao vai pentear macacos, que ainda hoje é utilizada em Portugal e em algumas localidades no Brasil. Todas elas têm o mesmo significado.
Sem eira nem beira - Refere-se a pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Esta expressão pode ter ainda outra explicação. Antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando assim sem eira nem beira.

Fechado a sete chaves - No século XIII, eram usadas arcas para guardar jóias e documentos da corte de Portugal. Cada arca tinha quatro fechaduras e era aberto por quatro chaves diferentes, distribuídas pelos altos funcionários do Reino. Com o tempo, as arcas caíram
Tintim por tintim - Expressão muito utilizada na língua portuguesa é utilizada para descrever alguma coisa com muito detalhe. Segundo o filólogo João Ribeiro, “tintim é a onomatopeia do tilintar de moedas”, ou seja, tintim é o barulho que uma moeda faz quando cai sobre outra. Na sua origem, a expressão tintim por tintim era usada para se referir a uma conta ou dívida paga até a última moeda. Assim, quando queremos obter informações precisas sobre algum facto ou situação, costumamos dizer: "Conte-me tudo, tintim por tintim”.
segunda-feira, 26 de março de 2012
quinta-feira, 22 de março de 2012
O Caldo: alimento milagroso
A palavra Caldo provém da palavra latina caldus, que significa quente. No entanto caldo, para o comum dos portugueses, significa alimento liquido que se prepara cozendo em água substâncias alimentícias. A Enciclopédia define caldo como uma substancia liquida nutritiva, preparada pela coacção de carne ou de outra substancia alimentícia. Uma forma mais pomposa de dizer a mesma coisa!
Na Idade Média, o caldo era o prato forte da refeição dos estratos populacionais mais pobres. Eram feitos à base de legumes e hortaliças secas. Mas esses caldos, em situações especiais e de acordo com as possibilidades económicas da família, eram enriquecidos com um naco de carne, que poderia ser de galinha, de vaca ou de porco. Essa carne servia apenas para dar sabor ao caldo, já que era retirada para ser usada posteriormente noutra refeição. Era principalmente apreciado um bom pedaço de toucinho ou uma peça de enchido, pelo sabor e pela gordura que introduziam no caldo, e especialmente por poder ser saboreado no final com um naco de pão. Com os legumes secos que entravam no caldo, com as castanhas que eram muito utilizadas, e sobretudo com cereais (cevada, milho e painço) todos eles farinados e em misturas mais ou menos variadas, confeccionavam-se depois as papas. Era esta uma forma de confecção milenar, e que por ser simples e nutritiva, se foi conservando ao longo de gerações. Nas classes mais favorecidas, o caldo também era usado, como base da refeição, mas obviamente mais enriquecido. No primeiro livro de culinária que há registo em Portugal, de nome "Livro da Cozinha da Infanta D. Maria", do século XVI, estranhamente não há qualquer referência ao caldo, apesar de ser a base da alimentação portuguesa...talvez por ser considerada a alimentação dos pobres! Em Portugal as primeiras receitas de caldo aparecem com a publicação em 1680 do livro "Arte da cozinha" de Domingos Rodrigues, cozinheiro de D. Pedro II. São apresentados dois caldos, sendo um de galinha e outro à francesa (com junção de pão) também chamado de sopa. O caldo português, o mais enriquecido, rapidamente se espalhou pela europa gastronómica, e a primeira referência internacional surge em 1780 no livro intitulado "Cozinheiro moderno ou nova arte da cozinha", com a receita do caldo geral ou ordinário, além de vários caldos, bons para curar diversas doenças. No "Grande dicionário de Culinária" de Alexandre Dumas, publicado em 1873 após a sua morte, quando se refere ao caldo começa por escrever que não existe uma boa cozinha sem um bom caldo, considerando este como um ponto de partida para a excelência da cozinha francesa. Elogia ainda as mulheres portuguesas pela confecção do caldo. No seu livro intitulado "Cidade e as Serras", Eça de Queiróz descreve o deslumbramento do abastado Jacinto, fino parisiense, ante a degustação do caldo: Desconfiado provou o caldo, que era de galinha. Provou-o e levantou para mim uns olhos que brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: - Está bom! (...) Estava precioso. O seu perfume enternecia. Mas o caldos não serviam apenas para a alimentação do dia a dia. Eram usados na Medicina da época e eram receitados frequentemente, pelos melhores médicos do reino. Na Historologia Médica de 1739, de José Rodrigues de Abreu, a receita para as queixas de tosse e dores das articulações era um caldo de farinha a que se devem juntar umas colheres de açúcar e uma ou duas gemas de ovos. Este caldo é celebre por toda a Europa, a que se devem juntar umas raizes de chicória. Nas Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, de 1863 pode-se ler o seguinte: creança de 6 anos atacada com angina diphtherica (...) fazer apenas dieta de caldos; creança de 4 anos com garrotilho (...) fazer caldos de tapioca seguidos de caldos de galinha; senhora com acessos de tosse (...) 2º e 3º dia caldos de farinha, de fécula e de aletria. Nos 3º e 4º dias juntar ovos ao caldo de leite.
Actualmente o nome caldo está em desuso, tendo sido substituído por sopa, mas ainda podemos ver a palavra caldo no nosso dia a dia. Dizemos muitas vezes quando as coisas correm mal que o caldo está entornado, referência à calamidade que era para uma família com fracos meios de subsistência, o facto de se entornar a refeição que tinham para o dia.
Também em provérbios populares ele está presente: cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. A sopa pode ter ganho a batalha dos tempos modernos, mas há uma pequena vingança do caldo: a mais conhecida sopa portuguesa é o CALDO verde!
quarta-feira, 21 de março de 2012
Biblioteca Municipal do Porto: um lugar familiar


Como bibliotecários ilustres destacam-se Alexandre Herculano, que durante o Cerco do Porto, trabalha na organização da Biblioteca e Fulgêncio José Lopes da Silva, o meu avô! Pode parecer uma falta de modéstia minha colocar o meu avô, que chegou a 1º Bibliotecário em 1947, num patamar semelhante ao grande Alexandre Herculano! Mas foi o Sr. Fulgêncio que durante mais de 40 anos "viveu" aquela Biblioteca.Segundo as palavras do jornalista Ercílio de Azevedo, num artigo do Jornal "A Capital" de 29 de Janeiro de 1969 sem o Sr. Fulgêncio o velho edificio de S. Lázaro seria quanto muito um armazém de livros; com ele era um ser vivo e activo, dispensador de cultura e de vida aos que nele descobriam o mundo da sabedoria. Os estudiosos procuravam-no, os eruditos consultavam-no, os jovens acatavam os seus conselhos como se fossem versões fidedignas das tábuas da lei...estou em crer que não havia livro que a sua memória não tivesse catalogado (...) com ele aprendi a ter fé na vida, uma fé louca e absurda...e a descobrir o mundo do sonho na aridez do presente, nos longes do futuro e nas brumas da distância por entre os vagalhões da vida. O Sr. Fulgêncio, licenciado em Farmácia, vivia os livros como ninguém. Recebeu a medalha de Ouro da cidade do Porto pelos serviços prestados à cidade e tem no salão nobre da "sua" Biblioteca um quadro pintado por Agostinho Salgado, onde ficou imortalizado com o seu comprido casaco soerguido pelo braço, o chapelão preto e ondulado colocado de través, o jeito infantil de inclinar a cabeça sobre o ombro...só ali falta o "definitivo" que constantemente lhe ardia nos dedos requeimados. Como disse Jaime de Almeida no seu artigo intitulado "Morte de um Homem fora de moda" o Sr. Fulgêncio foi um Homem singular um pai e avô de quem se podem orgulhar".
terça-feira, 20 de março de 2012
Onde está o Senso Comum?

O conhecimento vulgar ou
popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento
científico nem pela veracidade nem pela natureza do objecto conhecido: o que os
diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer"
(E. Lakatos). Os provérbios populares são os exemplos vivos do
senso comum, passado de geração em geração: "Espera de teus filhos, o que
a teus pais fizeres"; "Água fervida alimenta a vida";
"Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio";"Cuidados e
caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém"...
A vida moderna, de frenesim
constante, está a deixar o senso comum para trás. As tradições não se passam,
as gerações não convivem e o senso comum está a desaparecer aos poucos.Tudo
está tão formatado, tão complicado que não há espaço para o saber antigo.Não
interessa, não é cientifico, não está regulamentado... Já não se pára para
pensar. Age-se num impulso. Tudo tem que ser resolvido rapidamente, pois tempo
é dinheiro. Já não sabemos fazer nada sem recorrer a especialistas. Não
resolvemos nenhuma situação sem pedir uma opinião; não tratamos uma pequena
maleita de um filho sem recorrer ao hospital. O medo de falhar, de errar, de
parecer mal perante a sociedade é tão grande e está tão incutido em nós que é
melhor que a culpa seja de outrem se alguma coisa correr mal. Nada de correr
riscos...Não vale a pena fazer um esforço e deixar a natureza humana mostrar a
sabedoria. Como diz o ditado popular "quem mal entende, mal conta" e
quando a tradição não é entendida e apreendida, não pode ser ensinada!
domingo, 18 de março de 2012
O Dia do Pai


Em Portugal, o dia do Pai é comemorado no dia de São José, no dia 19 de Março, estando assim ligado às festividades religiosas.
Desejo a todos os Pais, incluindo obviamente o MEU, um Feliz Dia do Pai, mas principalmente desejo a todos os Pais, uma feliz vida todos os dias e não apenas a 19 de Março!
sábado, 17 de março de 2012
Viagens de carro em família
Hoje apetece-me recordar pedaços da minha infância: as viagens de carro em família! Doces momentos de felicidade! Imaginem 5 crianças dentro de um carro, a partir de viagem para férias, com os pais e toda aquela tralha que uma família de 7 pessoas arrasta sempre que vai para qualquer lado. Tudo dentro de uma carrinha Ford Cortina branca, que por umas horas (longas para nós as crianças) passava a ser o nosso Mundo. Era um Mundo mágico e de fantasia criado pelos nossos pais para tentarem amenizar o tormento que eram as nossas estradas nacionais no início dos anos 80. Mal entravamos no carro, em grande algazarra, começava a disputa para ver quem conseguia o lugar à janela. Como éramos 5 e só havia duas janelas, três de nós acabávamos de "trombas" sentados nos lugares do meio, olhando de soslaio para os sortudos que ostentavam um sorriso triunfante, e que tiveram o privilégio de ficar à janela. Como não havia cintos de segurança, uns iam mais encaixados para a frente e outros mais encostados ao banco, para cabermos todos. Não sei muito bem como, mas lá cabíamos os 5 no banco de trás.Ás vezes um de nós, normalmente um dos os mais novos por serem mais pequeninos, ia à frente ao colo da minha mãe. Terminada a primeira "disputa" e após uma grande capacidade de organização do meu pai para conseguir amarfanhar todas as malas, sacos, saquinhas e afins, dentro da mala do carro, lá partíamos nós para o nosso destino de férias. Passados 5 minutos começava o tradicional inquérito: "ainda falta muito?", "onde estamos?", "quantos quilómetros já fizemos?"...acompanhado de um sem fim de queixumes que culminava no "estou a ficar enjoada...".
De facto acho que os meus pais tinham uma paciência ENORME!!! Durante toda a viagem, ninguém se calava. Eram 5 gralhas no banco de trás, sempre, sempre a falar, e por vezes a gritar quando surgiam algumas discussões normais entre irmãos. E como diz o ditado, se não os vences, junta-te a eles, a minha mãe lá começava com as cantorias para nos tentar acalmar. E era tão bom!!! Cantávamos de tudo: músicas populares, músicas que eram hits da altura, lengalengas infantis, letras inventadas...todos cantávamos e fazíamos um espectáculo todos juntos! Imagino o que as pessoas dos carros que por nós passavam pensariam...um carro cheio, com 7 cabeças todas a abanar ao som da cantoria e de vidros abertos, pois não havia ar condicionado! Devíamos ser um regalo para a vista...Lembro-me bem da cantilena da "Rosa arredonda a saia", da "saia da Carolina", da "Loja do Mestre André", "Era uma linda manhã", "As pombinhas da Catrina"...e tantas outras. Ainda hoje sei todas essas letras de cor e muitas vezes dou por mim a cantarolar recordando esses momentos. Quando a cantoria terminava, começava a "culinária": fazer bolinhos de vento! Os sortudos da janela, é que tinham o papel mais activo nesta tarefa. Toca a fazer bolinhos de vento com as mãos para todos os passageiros. Bolinhos grandes, outros mais pequeninos, uns bem cozidos outros mais encruados...mas todos deliciosos. Todos "comíamos" e ficávamos cheios de boa disposição. Até o meu pai a conduzir tinha que ter uma mão livre para pegar no seu bolinho e no fim dizer "que bom bolinho de vento". No fim desta refeição mágica batíamos palmas todos orgulhosos do nosso feito...agora que bem me sabia um desses bolinhos! Outro jogo que fazíamos era com as cores dos carros que passavam. Cada um de nós escolhia uma cor e durante um período de tempo, contávamos os carros com a cor escolhida que por nós passavam e quem contasse mais ganhava. Era uma luta para ver quem dizia primeiro a cor preta e a cor branca! Eram essas as cores que ganhavam sempre, e por isso as mais cobiçadas.
E lá íamos nós estrada fora, ansiosos por chegar ao nosso destino. Passados todos estes anos, estes momentos parecem-me um sonho. Por vezes fecho os olhos e consigo reviver sensações, ouvir sons e sentir cheiros que me transportam 30 anos atrás. Que bom ter memória e poder voltar a ser criança por breves momentos!
quinta-feira, 15 de março de 2012
O Brinquedo
A história do brinquedo, é uma história que acompanha o Homem. Em todos os tempos, para todos os povos, os brinquedos evocam as mais sublimes lembranças. Os brinquedos são objectos mágicos, que vão passando de geração em geração, com o incrível poder de encantar crianças e adultos (Velasco, 1966). O brinquedo, de uma forma bem diferente do jogo, implica que exista uma relação intima com a criança, não havendo regras pré-definidas para a sua utilização. A criança é que determina a sua função e como o vai usar. Desde os tempos mais remotos, as crianças brincam! A primeira referência ao brinquedo data de 6500 anos atrás no Japão, com a criação de bolas de fibra de bambu, produzidas propositadamente para as crianças poderem brincar. Há cerca de 3000 anos foram criados os primeiros piões na Babilónia, feitos de argila e decorados com cores. Os famosos soldadinhos de chumbo surgiram no século XIII, mas apenas para simular técnicas de batalha, e só mais tarde foram popularizados entre as crianças de famílias nobres.As primeiras caixas de música surgem apenas no século XVIII criados por relojoeiros suiços. Desde tempos imemoriais, as crianças brincaram com os mais diversos brinquedos: bolinhas de gude foram utilizados por crianças africanas há milhares de anos; na Grécia antiga ou no Império Romano, os brinquedos mais comuns eram a bola, barquinhos e espadas de madeira entre os meninos, e bonecas de pano entre as meninas; na Idade Média, o fantoche tornou-se muito popular. Até ao final do século XIX os brinquedos eram fabricados em casa, ou fabricados artesanalmente. Com a Industrialização tudo mudou, e os brinquedos passaram a ser produzidos em massa dentro de fábricas, longe dos olhares das crianças.


terça-feira, 13 de março de 2012
O Pão Molete

O primeiro pão fermentado, semelhante ao que nós comemos actualmente, já era consumido pelos egípcios há cerca de 4000 AC. O pão era de tal forma importante na sociedade antiga, que os camponeses ganhavam como salário pelo trabalho de um dia, três pães e dois cântaros de cerveja.
As primeiras padarias, no entanto, surgiram em Israel, após o aperfeiçoamento da técnica de fabrico do pão, por parte dos hebreus.
Mas foi em Roma, por volta de 500 AC, que foi criada a primeira escola de padeiros, tendo-se tornado o principal alimento da população, produzido em padarias públicas. Com a expansão do Império Romano, o hábito de consumir pão foi-se difundido por grande parte da Europa.No início da Idade Média, por volta do ano 476, as padarias foram extintas, e o pão voltou a ser produzido em casa, sem recurso ao fermento. Só no século XII, em França é que o pão voltou a ser produzido por padeiros, tornando-se este País mundialmente conhecido pelos seus pães.

Mas o pão a que quero aqui dar relevo é ao famoso Pão Molete, tão conhecido no Porto. Muitas vezes me pus a pensar no porquê de o pão que eu como desde que me lembro, ter um nome tão estranho como este: Molete! De facto, é uma palavra que não tem qualquer significado na língua portuguesa, a não ser claro está, quando se refere ao tipo de pão que tão bem conhecemos. Porquê Molete? A razão deste pão ser assim chamado remonta ao século XIX.


segunda-feira, 12 de março de 2012
Telegrafia em Portugal
Nunca pensei vir a interessar-me tanto por telegrafia! Mas de facto tenho actualmente um carinho especial por este tipo de telecomunicação, agora quase extinta. Tudo começou quando descobri que tive um trisavô de nome José Bento Dragazzi de Figueiredo que era telegrafista, e além de exercer esta profissão foi ainda inventor de um telégrafo! Fiquei fascinada e então procurei saber tudo o que podia sobre telegrafia.
Como é do conhecimento geral a telegrafia foi inventada por Samuel Morse, que nasceu em 27 de Abril de 1791, em Charlestown, Massachusetts nos Estados Unidos. Em 1838, o famoso Código Morse começou a ser utilizado e a telegrafia começou a dar os primeiros passos. Mas foi só em 1844, que foi terminada a primeira linha telegráfica, entre Baltimore e Washington, e a primeira mensagem a ser transmitida foi "What hath God wrought!" ("Que obra fez Deus!"). Neste caso foi mesmo o Homem! O grande desenvolvimento da telegrafia deu-se no meio militar,tendo sido amplamente utilizada nas comunicações durante a 2ª Grande Guerra. Actualmente é ainda utilizada pelo radio amadores. Portugal foi um dos países pioneiros na utilização da telegrafia, no tempo de Fontes Pereira de Melo. Em 1855 foi lançado o primeiro cabo submarino entre Lisboa e os Açores, mas as primeiras linhas a serem inauguradas em 1856, foram entre o Terreiro do Paço e as Cortes e o Palácio das Necessidades e Sintra, onde passava férias a família real. Em 1857 eram abertas ao público as linhas de telegrafia.
No final do século XIX já havia 8000 quilómetros de linhas telegráficas, com estações em Lisboa, Sintra, Mafra, Caldas da Rainha, Alcobaça, Elvas, Évora, Coimbra, Porto entre outras.

A notícia do Jornal termina comunicando que "estes aparelhos foram inventados por um empregado meramente prático e que, pela reforma de 7 de Julho de 1880, foi preterido por todos os empregados mais modernos de inferior classe e da sua; quando era Telegrafista de 4ª Classe, foi dado como incompetente e por demente por um membro da Comissão Classificadora...sendo um homem de distinta aptidão e não tendo uma única nota que manchasse a sua vida pública no decurso de 24 anos de serviço efectivo." A tenacidade venceu! O telégrafo Dragazzi foi construído a 31 de Dezembro de 1880. Está referenciado no Museu Internacional de Telecomunicações, na Alemanha.

Costeletas panadas com bacalhau desfiado e grelos
Tradição da minha avó paterna, a D.Miquinhas, como era conhecida na Calçada da Serra, onde todos os dias abria a sua mercearia bem cedinho, para poder atender os fregueses! Era uma exímia cozinheira e tinha uma imaginação fabulosa na cozinha. Nada se estragava, nada era deitado fora. Comida que sobrasse do dia anterior era guardada e servia para fazer um novo e delicioso prato no dia seguinte. Desta capacidade transformadora surgiu este prato que todos em casa adorávamos, e que mais ninguém conhecia, a não ser claro está, os fregueses da mercearia. Este fantástico pitéu era servido ao almoço,no armazém da mercearia numa grande mesa de madeira rodeada de pipas de vinho. O famoso bacalhau desfiado era acompanhado de umas costeletinhas panadas e uns grelos salteados...uma delícia! Acredito que esta junção possa parecer estranha para quem nunca teve o privilégio de provar...afinal peixe e carne no mesmo prato não é muito comum de ver, mas quem prova não resiste! A receita essa foi passada ao meu pai, que fiel aos seus genes maternos, se tornou um grande cozinheiro. Graças a esse dom ainda hoje me posso deliciar com este prato tão original.
Aqui fica a receita do bacalhau desfiado:
4 postas de bacalhau, 6 batatas grandes, azeite qb, 2 dentes de alho, sal, pimenta, noz moscada qb. Cozer o bacalhau e depois desfiá-lo, retirando toda a pele e espinhas. Num pano de cozinha colocar o bacalhau e amassar muito bem, rolando o pano como se de um rolo de massa se tratasse. Deixar arrefecer. Cozer as batatas em água com sal, até ficarem quase desfeitas. Num recipiente juntar as batatas e o bacalhau envolvendo tudo muito bem. Num tacho com azeite no fundo, colocar os dentes de alho inteiros, e deixar lourar. Quando estiverem lourinhos retirar o alho e colocar as batatas e o bacalhau envolvendo tudo muito bem. Temperar a gosto (um pouco de pimenta, noz moscada...) e servir acompanhado das costeletas panadas e dos grelos salteados...e bom apetite!
Aqui fica finalmente a homenagem devida à Mulher que tão bem confeccionava este petisco e que ninguém consegue igualar na sua confecção: a minha avó Conceição, a D. Miquinhas!
Aqui fica a receita do bacalhau desfiado:
4 postas de bacalhau, 6 batatas grandes, azeite qb, 2 dentes de alho, sal, pimenta, noz moscada qb. Cozer o bacalhau e depois desfiá-lo, retirando toda a pele e espinhas. Num pano de cozinha colocar o bacalhau e amassar muito bem, rolando o pano como se de um rolo de massa se tratasse. Deixar arrefecer. Cozer as batatas em água com sal, até ficarem quase desfeitas. Num recipiente juntar as batatas e o bacalhau envolvendo tudo muito bem. Num tacho com azeite no fundo, colocar os dentes de alho inteiros, e deixar lourar. Quando estiverem lourinhos retirar o alho e colocar as batatas e o bacalhau envolvendo tudo muito bem. Temperar a gosto (um pouco de pimenta, noz moscada...) e servir acompanhado das costeletas panadas e dos grelos salteados...e bom apetite!
Aqui fica finalmente a homenagem devida à Mulher que tão bem confeccionava este petisco e que ninguém consegue igualar na sua confecção: a minha avó Conceição, a D. Miquinhas!
A Calçada da Miquinhas
Manter tradições, preservar memórias, reviver momentos passados, transmitir saber antigo, é o propósito deste blogue. A "Calçada da Miquinhas" convida-vos para um relaxante passeio ao passado...
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