O dia 1 de Dezembro de 1640 é um dia histórico para
Portugal. O nosso país restaurava a sua independência face aos espanhóis e a
dinastia Filipina chegava ao fim. O trono de Portugal era novamente ocupado por
um descendente luso. D.João, Duque de Bragança tornou-se no vigésimo rei
português iniciando a IV dinastia portuguesa, a dinastia de Bragança. Os anos
anteriores foram muito conturbados. Com o desaparecimento de D.Sebastião
sem deixar descendência, na Batalha de Alcácer Quibir em 1578, o trono de
Portugal foi ocupado pelo seu tio o Cardeal D.Henrique. Dois anos depois em
1580, o Rei-Cardeal morreu sem deixar herdeiro nomeado dando início a uma crise
politica e social em Portugal. Chegou até nós uma quadra popular que define bem
o descontentamento do povo português perante a ausência de um herdeiro
legitimo: Que o Cardeal-rei D.Henrique, fique no inferno muitos anos,
por ter deixado em testamento, Portugal aos castelhanos. Filipe II de
Espanha, neto de D.Manuel e tio de D.Sebastião assumiu a pretensão ao trono
português tendo apenas como opositor D.António, Prior do Crato e primo de
D.Sebastião. Na Batalha de Alcântara, de 24 de Agosto de 1580, o pretendente
português saiu derrotado e Filipe II de Espanha, I de Portugal, foi aclamado
rei em 1581 nas Cortes de Tomar. Comprometeu-se a manter a independência de
Portugal como país, a só nomear governadores portugueses, a respeitar os usos e
costumes lusos e a manter a moeda nacional. O tempo foi passando e os seus
sucessores rapidamente se esqueceram destas promessas e Portugal passou a ser
mais uma província do reino de Espanha. É neste cenário de submissão ao poderio
crescente dos espanhóis que surge o nome de Margarida de Sabóia, uma italiana que
representava a Dinastia dos Filipes em Portugal. Filha de Carlos Emanuel I,
Duque de Sabóia e da Infanta Cristina Micaela de Espanha , nasceu na cidade
italiana de Turim a 28 de Abril de 1589. Neta pela parte materna de Filipe II
de Espanha, tornou-se numa importante figura da aristocracia europeia. De
acordo com uma aliança matrimonial, casou na cidade em que a viu nascer no dia
19 de Fevereiro de 1608 com Francisco de Gonzaga, futuro Duque
de Mântua e Montferrat. Com a morte precoce do Duque Francisco,
Margarida de Sabóia assumiu o cargo de Duquesa de Mântua, nome pelo qual
ficaria conhecida para a história. Sem filhos varões vivos, Margarida tornou-se
regente da filha Maria até esta ter idade para governar o ducado, após anos de
luta contra outros pretendentes ao lugar deixado vago pelo marido. Tendo
antepassados ligados à Casa Real Portuguesa, já que as suas avós materna e
paterna eram ambas filhas do rei D.Manuel (Isabel e Beatriz), foi
nomeada em 1634 pelo rei Filipe IV, seu primo directo, Vice-rei de Portugal.
Recebida a 10 de Novembro de 1634 em Madrid pelo monarca do reino de Espanha,
onde se deslocou acompanhada do Duque de Olivares, o ministro preferido de
Filipe IV. Rumou a Portugal no fim do mês de Agosto, com o correspondente a 8
mil escudos em ouro para as despesas de viagem, e com uma provisão que
correspondia a 25 mil escudos anuais pelo cargo que ia ocupar.
A Vice-rei
Margarida de Mântua chegou a Portugal no ano de 1635 para onde se dirigiu com
ideais de governação e poder. No entanto cedo se apercebeu que não passava de
uma peça decorativa sem qualquer poder real. Margarida
de Sabóia foi colocada em Portugal para vice-reinar e não para governar (António
de Oliveira, Poder e Oposição Política em Portugal no Período Filipino).
O poder efectivo estava nas mãos do Marques de Puebla (Conselheiro de
Estado e Governador da Fazenda de Castela) e do seu secretário
Gaspar Ruiz Escaray (Secretário de Estado do Conselho de Guerra), que
vigiavam e controlavam todas as acções e decisões da Vice-rei de Portugal. A
principal tarefa, que lhe tinha sido atribuida directamente pelo primo Filipe
IV de Espanha e III de Portugal, era convencer os Ministros portugueses a
aceitarem o aumento da carga fiscal de modo a obter uma renda fixa e defender
e recuperar o Brasil, entretanto nas mãos dos holandeses. Miguel de
Vasconcelos, português e primeiro ministro de Margarida de Mântua, era também
colaborador de Filipe III de Portugal. Era um homem odiado pelo povo português
por defender o domínio filipino. Ao verificar que nada daquilo que decidia era
cumprido e que eram cometidas irregularidades contra o povo português,
particularmente por Miguel Vasconcelos e pelos outros ministros, Margarida de
Mântua, escreveu a Filipe IV várias cartas a dar conhecimento de tais atitudes
e onde avisava o primo do perigo de perder o reino português caso não
fossem interrompidas tais medidas. Pedia a Filipe III que moderasse os seus
ministros e que fosse mais benevolente com o povo português completamente
subjugado em impostos e sofredor de injustiças constantes. Com a
introdução do chamado imposto da quinta, que consistia em taxar a
5% todas as mercadorias e rendimentos do reino português, Margarida de Mântua
com a sua intervenção conseguiu controlar um inicio de revolução no litoral sul
de Portugal. Apesar dos avisos sobre o sofrimento em que vivia a maior parte da
população portuguesa e das injustiças cometidas, nada foi feito para minorar o
efeito das medidas tomadas. Quando surgiu a convocação dos nobres portugueses
para prestarem serviço fora das fronteiras lusas, começou a ser posta em
prática a ideia de uma revolução para expulsar os espanhóis. O chamado Grupo
dos Conjurados, como ficaram conhecidos os quarenta elementos que dele
faziam parte, começaram a planear o restabelecimento da
independência portuguesa. Escolheram para futuro rei de Portugal, D.João, Duque
de Bragança que tendo inicialmente recusado o convite foi convencido por sua
mulher D.Luisa de Gusmão, que segundo o Conde de Ericeira, afirmou ser mais
acertado morrer reinando do que acabar servindo. Também
é atribuída a D.Luisa a famosa frase melhor ser Rainha por um dia,
do que duquesa toda a vida. E assim as previsões de Margarida de Sabóia
confirmaram-se e no dia 1 de Dezembro de 1640, Portugal reconquistava
a independência que tinha perdido há 60 anos atrás .
Quando os
fidalgos invadem o paço D. Antão de Almada e D. Carlos de Noronha acercam-se da
Duquesa de Mântua e comunicam-lhe que Portugal não reconhece outro rei senão D.
João IV. A vice-rei tenta resistir e altivamente pergunta: Manda-me sair a
mim? E de que maneira? Carlos de Noronha responde: Obrigando
Vossa Alteza a que, se não quiser sair por aquela porta, tenha de sair pela
janela. Face à situação em que se encontrava, e depois de ter
visto o seu primeiro ministro Miguel Vasconcelos ser morto e atirado da varanda
para o Terreiro do Paço, Margarida de Mântua rende-se. Mais tarde
recebeu ordens para abandonar o Palácio e a pé acompanhada do seu séquito
dirigiu-se para a casa real de Xabregas onde permaneceu sob a protecção de
duzentos soldados portugueses. Poucos meses depois D.João IV libertou-a,
enviando-a em liberdade para Castela. Após várias tentativas para falar
com Filipe IV todas elas fracassadas, por intervenção do Duque de Olivares, e
depois de ter passado por Mérida e Occanga, Margarida consegue ser recebida a 3
de Janeiro de 1642, pelo monarca que lhe concede vários privilégios: o governo
da cidade de Vigevano, uma provisão de 36 mil ducados de prata anuais e 50 mil
ducados para a sua viagem de regresso a Itália. Margarida abandonou Madrid
a 5 de Julho de 1655 com destino à sua terra natal, mas perto da localidade
espanhola de Miranda de Ebro, a viagem foi interrompida, por se apresentar
muito debilitada. Chamado o alcaide local, Margarida confirmou o testamento que
tinha sido feito em 1652. A Duquesa de Mântua morre a 26 de Junho de 1656 em
Miranda de Ebro.Os seus restos mortais foram transportados para a cidade de
Burgos, onde ficaram depositados no mosteiro de Las Vuelgas. Pouco conhecida na
história de Portugal, esta mulher italiana de nascença, tornou-se Duquesa
de Mântua, foi Vice-rei de Portugal e morreu sem glória e longe da sua
pátria, tudo por uma inebriante e efémera sensação de poder.
Mais uma lição de história. Muito bom !!!
ResponderEliminarA nossa história é fantástica!!
ResponderEliminarUma excelente "aula".
ResponderEliminarObrigada!!
ResponderEliminarOpaaa! Deixa só chegar o fim-de-semana e é ver-me a ler este blog de ponta a ponta! :D
ResponderEliminara seguir*
Obrigada pela sua simpática mensagem! Espero que goste e que não desista de seguir a "Calçada da Miquinhas"!
ResponderEliminar