Sentada sob um fantástico céu nocturno galego, dou por mim a olhar encantada para os cachos de estrelas resplandecentes que brilham ininterruptamente. Há quanto tempo não via tanta estrela no céu...as luzes das grandes cidades ofuscam o brilho das estrelas e impedem-nos de observar um dos mais belos cenários naturais: o céu estrelado. Lembrei-me de Van Gogh que afirmava que quando
sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as
estrelas. Olhar o céu nocturno é um espectáculo natural deslumbrante capaz de ultrapassar as mais belas pinturas e esculturas artísticas expostas pelos museus de todo o mundo. É de graça, não tem limite de entradas e pode ser visto em qualquer lugar do planeta e no entanto poucos são aqueles que a ele assistem. Uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela (Bob Marley). Não olhamos para o nosso céu e não conhecemos as nossas estrelas. São tantas que me perco ao tentar inumerá-las.
Consigo identificar algumas constelações de estrelas pelo seu formato: a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Cassiopeia e Estrela Polar e poucas mais. Estas grandes e luminosas esferas de plasma, tiveram durante séculos uma enorme importância para todas as civilizações em todo o mundo, como método de orientação.
Em 1979 na região do Vale de Ach (região alemã do Danúbio) foi encontrada uma imagem gravada num bloco de marfim, que reproduz a constelação de Orion, com cerca de 32 mil anos. Mas são imensos os registos pré-históricos que comprovam que a observação das estrelas é uma actividade antiga: pinturas rupestres, gravações em pedra, túmulos, artefactos e construções megalíticas. O homem desde sempre utilizou as suas estrelas e com elas conviveu, às vezes adorando-as, outras vezes temendo-as. Com o passar do tempo e através da capacidade de observação o homem percebeu que poderia utilizar as estrelas para sua orientação em viagens terrestres e marítimas. O mais antigo mapa estelar datado do ano 1534 aC, foi encontrado no antigo Egipto. O primeiro catálogo de estrelas foi elaborado pelos astrónomos gregos Aristilo e Timocrates, aproximadamente no ano 300 aC.
Mas à medida que as civilizações foram evoluindo, com a descoberta de sistemas de navegação mais complexos e elaborados, deixamos de olhar para cima e passamos a olhar para a frente. As estrelas passaram a ficar lá no cimo e apenas esporadicamente lhes damos uma olhadela rápida. Nietzsche afirmava que enquanto sentires as estrelas como algo que está por cima
de ti não possuis ainda o olhar do homem que sabe. E de facto assim é. As estrelas contam-nos histórias ancestrais e enviam-nos a sua luz carregada de passado. Os telescópios potentes que actualmente conhecemos permitem-nos ver a luz emitida por estrelas que muitas vezes já não existem, mas que mesmo assim nos enviam a sua história através do espaço. Só temos que saber ouvir e saber observar. A nossa história está a ser contada repetidamente em cada estrela que cintila no céu. Somos todos feitos do mesmo pó de estrelas (Carl Sagan) e quem sabe se a nossa tão procurada imortalidade não está na simples capacidade de saber observar uma estrela. Somos
todos viajantes de uma jornada cósmica - poeira de estrelas, girando e dançando
nos torvelinhos e redemoinhos do infinito. A vida é eterna (Deepak Chopra, professor e escritor indiano).
Tudo muda. Nós mudamos, a vida muda, mas o sol, a lua e as estrelas estão sempre lá bem em cima; They twinkle above, we twinkle below...
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