sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Vira do Minho


O Vira é a dança rainha do Minho, e faz parte do folclore português. Dispostos em roda os pares de braços erguidos, vão girando vagarosamente no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Os homens vão avançando e as mulheres recuando. A situação arrasta-se até que a voz de um dançador se impõe, gritando fora ou virou. Dão meia-volta pelo lado de dentro e colocam-se frente-a-frente com a moça que os precedia.Este movimento vai-se sucedendo até todos trocarem de par, ao mesmo tempo que a roda vai girando, no mesmo sentido. Mas este é apenas o mais simples dos viras de roda, pois outros há com marcações mais complexas. E são muitos os nomes em que se desdobram: vira, fandango de roda, fandango de pares,  ileio, tirana, velho, serrinha, estricaina, salto, entre outros. Viana é famosa quando se trata de encenar o vira. Mas não é a única. Chegamos à região de Braga e logo nos surge o  vira galego, despido da opulência primitiva, como o caracterizou, Pedro Homem de Mello (Semibreves, Música Tradicional Portuguesa). Neste pequeno filme da autoria de Michel Giacommeti, datado de 1970, podemos ver o famoso Vira do Minho dançado na sua forma mais rústica, onde as personagens principais são populares que se juntaram para o dançar. Sem vistosos trajes característicos, mas com a roupa de trabalho, sem grande organização mas com a beleza da simplicidade, este filme transmite-nos como teria sido dançado no passado o Vira do Minho. Tomaz Ribas, escritor, etnólogo e crítico de teatro português, considera o Vira uma das mais antigas danças populares portuguesas, salientando que já Gil Vicente a ele fazia referência na peça Nau de Amores, em 1527, onde o dava como uma dança do Minho.


Nota: Imagem de Dom Paio Global

domingo, 23 de setembro de 2012

Viriato:O Herói Lusitano


Se a alma que sente e faz conhece,
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu. 
Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste,
Assim se Portugal formou.

Assim era Viriato nas palavras do grande poeta português Fernando Pessoa, no seu livro a Mensagem. Herói lusitano do imaginário português, Viriato tornou-se uma personagem épica pela sua heróica resistência ao domínio e ao Império Romano. Muito se tem escrito sobre este homem que viveu na Lusitânia, mas muito pouco se sabe ao certo. O seu nome, Viriato deriva do ibérico viria, que significa pulseira, uma abreviatura da palavra celta viriola (Mauricio Pastor Munoz, in Viriato: A luta pela liberdade)Viriato é originário da Lusitânia Ocidental, que confina com o Oceano, e mais precisamente da montanha. A sua pátria parece ter sido a Serra da Estrela (Mons Herminius), que domina a região situada entre o Tejo e o Douro (Adolf Schulten, arqueólogo, historiador e filólogo alemão do século XIX)

Pouco se sabe da vida de Viriato: não se conhece o nome dos pais, nem tão pouco o seu ano de nascimento. Estima-se que tenha nascido por volta do ano 170 a 190 aC. Apesar de imortalizado por Brás Garcia Mascarenhas, (militar e poeta português do século XVI) na sua ode Viriato Trágico como um simples pastor, Viriato pertencia a um dos clãs aristocráticos dos Lusitanos, e não era um simples guardador de rebanhos, antes proprietário de cabeças de gado (Mauricio Pastor Munoz, in Viriato: A luta pela liberdade). Fez-se bandoleiro, pertencente a Confrarias de Guerreiros, que saqueavam as regiões mais ricas das planícies do Sul. Nesta vida andava Viriato, quando o pretor romano Galba, furioso pelas derrotas que os lusitanos haviam imposto às legiões romanas (...) fingiu (...) sinceros desejos de paz, oferecendo-lhes férteis campos da Betica (actual Andaluzia) (...) muito superiores aos ásperos montes em que viviam. (...) Eles o julgaram sincero e em grande número se apresentaram desarmados nos lugares que haviam sido designados para concluir a proposta da convenção. Porém o traidor Galba, cercando-os com as legiões que tinha ocultas, os fez barbaramente acometer a assassinar (Archivo Popular, nº 20 de 12 de Agosto de 1836). Mais de 9.000 lusitanos foram mortos,  20.000 escravizados e enviados para a Gália e apenas cerca de 1.000 lusitanos sobreviveram. Entre eles encontrava-se Viriato. Conhecedor das técnicas de batalha dos romanos, dos anos de guerrilhas que com eles tinha travado, reuniu os sobreviventes do massacre, e começou por introduzir nos lusitanos a ordem e a disciplina, formando um exército. 
Conquistando progressivamente zonas como Segóbriga, Mancha e a Bética, tornou-se uma preocupação para os Romanos a partir de 143 a.C. Um dos combates mais importantes que travou contra as forças romanas foi o de Erisane (situada no sul da Andaluzia) onde em 141 aC. conseguiu fazer um cerco ao exército romano liderado por Fábio Máximo Serviliano. Este confronto foi decisivo por marcar o fim da resistência armada oposta a Roma, tendo Viriato obrigado Roma a um acordo com o Senado romano, onde os Lusitanos viam a sua independência reconhecida, passando Viriato a possuir o estatuto de amigo do povo romanoO seu casamento com a única filha de Astolpas, um grande proprietário da Bética, por quem se apaixonou, demonstra bem o carácter simples e despojado de Viriato. Apareceu vestido de guerreiro com a sua lança na mão, e durante o banquete recusou os manjares que lhe ofereceram. Não se banhou e não ocupou o seu lugar à mesa, criticando a ostentação do sogro. Embora a mesa estivesse repleta de manjares requintados e de todo o tipo de comidas, apenas tirou pão e carne e repartiu-os entre aqueles que tinham viajado com ele. Depois tirou alguma comida para si e ordenou-lhes que fossem buscar a noiva (Mauricio Pastor Munoz, in Viriato: A luta pela liberdade).

Estrabão definiu a Lusitânia de Viriato como a mais poderosa das nações da Península Ibérica, a que, entre todas, por mais tempo deteve as armas romanas. Viriato conseguiu não apenas a unificação  dos diferentes clãs lusitanos mas também comandar tranquilamente, sem cisões internas, durante oito a dez anos. Diodoro da Sicília, historiador e filósofo grego do século I a.C, afirmou que enquanto ele comandava, ele foi mais amado do que alguma vez alguém foi antes dele. 
No entanto Roma não esqueceu o vexame que tinha sofrido às mãos de uns quantos bárbaros lusitanos, pelo que anula o tratado firmado e declara novamente guerra à Lusitânia. Roma envia novo general, de nome Servílio Cipião, para reiniciar os combates. Viriato, com a maior parte do seu exército já desmobilizado e com poucos meios de defesa, vê-se obrigado a recorrer a um novo tratado de paz. Envia três guerreiros de sua confiança, de nomes Audas, Ditalco e Minuros, para negociarem o acordo. Cipião recorre ao suborno dos companheiros de Viriato, que em troca de dinheiro e terras, assassinaram o seu chefe enquanto dormia.  Viriato perdeu a vida e os lusitanos perderam o seu grande líder e o seu sonho de liberdade. Roma, a super potência da época, que se intitulava arauto da civilização, venceu de forma inglória e apenas recorrendo à traição. Depois da morte de Viriato,  Roma rapidamente os subjugou ao seu poder e a Lusitânia de Viriato curvou-se ao domínio do império Romano. Viriato tornou-se um herói, imagem de liberdade e de respeito pela diferença. Líder justo, de simples costumes, de personalidade forte e carismática, corajoso e defensor da liberdade foi cantado e homenageado durante séculos. Chegaram até nós vários poemas que a ele se referem, como este de Brás Garcia de Mascarenhas:

Canto um Pastor, amores, e armas canto,
Canto o raio do monte, e da campanha,
Terror da Itália, e do mundo espanto,
Glória de Portugal, honra de Espanha:
Triunfante da Águia, que triunfando tanto,
Tanto a seus raios tímida se acanha,
Que à traição, só dormindo, o viu rendido,
Porque desperto nunca foi vencido.

Também Luís de Camõeso homenageou nos Lusíadas:

Este que vês, pastor já foi de gado
Viriato sabemos que se chama
Destro na lança mais que no cajado
Injuriada tem de Roma a fama.

Numa época que perdeu o valor da tradição épica como estruturante da identidade dos seus povos, importa relembrar a memória e o exemplo dos principais autores da sua História. (...) Se perdemos a consciência da nossa identidade colectiva, como podemos reivindicar o que quer que seja, como podemos reescrever a nossa História, como podemos edificar o futuro? (António Manuel de Andrade Moniz  in Viriato, herói lusitano: o épico e o trágico).
Pena é que tão poucos Viriatos existam...


domingo, 16 de setembro de 2012

O Dono do Mundo

Numa época de crise como aquela que estamos actualmente a passar, falamos essencialmente de uma coisa: dinheiro! O vil metal está no centro das atenções e é a causa de todos os problemas. Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente (William Shakespeare)De facto somos controlados por este velho senhor de nome Dinheiro, e como disse Thomas Fuller, clérigo e historiador inglês do século XVII, o dinheiro é o único monarca. Tal como qualquer outro monarca reinante que se preze, o nosso distinto governante virtual, foi adquirindo diversos nomes e alcunhas ao longo dos tempos. O seu nome de baptismo é curto, apenas Dinheiro, mas os seus sobrenomes e cognomes são tantos, que não há família real que consiga ombreá-lo. 

Cacau - corresponde a um dito usado com outros vocábulos: Aquilo com que se compra o cacau

Carcanhol - pensa-se que está relacionada com carcanhão, que é um nome dado à ostra, que por ser muito apreciada, se tornou muito valiosa.

Chapa - o dinheiro (moedas ou notas) é feito recorrendo a chapas que servem para a respectiva impressão

Chavo e Cheta - correspondem a antigas moedas de cobre


Baga, Caroço ou Grana - correspondem a sementes que produzirão novos frutos, tal como o dinheiro quando é bem gerido

Graveto - pequeno ramo de madeira usado para acender o fogo, fazendo referência à importância e valor do fogo no passado

Guita ou Guito - podem estar relacionadas com o cordel com que os feirantes   atavam as notas

Massa ou Pasta - referência à matéria com a qual se faz o pão e à argamassa com a qual se cobrem as paredes. Também o dinheiro nos permite comprar o pão ou pagar os materiais e os trabalhadores que nos fazem as casas

Nota ou  Papel - referência à própria forma do dinheiro quando imprimida em papel

Pataca - antiga moeda brasileira de prata que valia 320 réis, emitida pelo governo de portugal até ao século XIX. O nome pataca deriva-se da moeda de prata de oito reais mexicana. A pataca é actualmente a moeda oficial de Macau.

Paus - uma possível referência à valiosa madeira de Pau-preto, que durante a época de colonização serviu como moeda de troca em muitas transacções comerciais. 

Pilim - uma onomatopeia porque lembra o tilintar das moedas

Tusto - provavelmente um deturpação da palavra tostão, moeda de ouro cunhada pela primeira vez no reinado de D. Manuel I, equivalente a 1.200 réis

Vintém - antiga moeda brasileira de 20 réis

Detentor de um grande poder a sua fama ultrapassa fronteiras. O grande poeta Manuel Bocage definiu-o assim: 

Faço a paz, sustento a guerra
Agrado a doutos e a rudes, 
Gero vícios e virtudes,
Torço as leis,
Domino a Terra

Oscar Wilde afirmou quando eu era jovem, pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje, tenho a certeza! E eu também!


Nota: Muitas das explicações dadas foram retiradas de Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (http://www.ciberduvidas.pt)
Foto de CLARICE COPPETTI

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Informação

Todos os dias somos bombardeados com noticias do mundo que nos entram pela casa dentro quase sem pedir licença. A rádio, a televisão, as redes sociais, as revistas e os jornais são o veiculo de propagação de informação. A avalanche de informação a que todos os dias estamos sujeitos é de tal forma avassaladora que já não procuramos a informação, fugimos dela. É difícil no mundo actual estarmos sem noticias. Tudo é noticia e tudo é global. O mundo tornou-se pequeno e quase que sabemos o facto antes dele acontecer! Mas a informação nem sempre foi tão fácil de obter. 

A primeira publicação regular que se tem conhecimento surgiu no século I, quando o Imperador Augusto instituiu a colocação no Forum Romano da Acta Diurna. Esta publicação, que inicialmente apenas enumerava as listagens de eventos ditados pelo Imperador era gravada em pequenas tábuas de pedra, foi instituída por Júlio César no ano 59 aC. Mas foi com Augusto que se tornou periódica e começou a divulgar diversas notícias sobre feitos militares, factos sociais, obituários e outros acontecimentos importantes. A Acta Diurna era afixada em locais públicos para ser lida por todos. No entanto o primeiro jornal em papel surgiu apenas no ano de 713 dC como panfleto manuscrito em Pequim, com o nome de Notícias Diversas. Na Idade Média eram comuns nas grandes cidades, as folhas escritas com noticias comerciais e económicas que eram distribuídas nos meios burgueses. Na cidade de Veneza estas folhas eram vendidas ao preço de uma gazzeta, a moeda local. Daqui teve origem o nome Gazeta, nome adoptado por muitos jornais publicados na Idade Média e que chegou até nós fazendo ainda parte do nome de muitos periódicos contemporâneos. 
A primeira publicação impressa regularmente surgiu em 1602, na cidade holandesa de Antuérpia, com o nome de Nieuwe Tijdinghen e tinha periodicidade semanal. Em 1621 surge em Londres o primeiro jornal de língua inglesa com o nome The Corante. Em 1638, também em Londres o Weekly News torna-se no primeiro jornal a publicar noticias internacionais, tendo sido logo seguido pelo jornal francês La Gazette, que tinha iniciado a sua publicação a 31 de Maio de 1631. Todos estes jornais tinham periodicidade semanal, quinzenal ou mesmo mensal. Só em 1650 surge o primeiro jornal diário com o nome de Einkommende Zeitungen (Notícias Recebidas) fundado na cidade alemã de Leipzig. O poder da informação foi crescendo e com ele o número de jornais publicados. Nos séculos XVIII e XIX as publicações impressas aumentaram exponencialmente e jornais como o inglês The Times (que começou a circular em 1785 com o nome de The Daily Universal Register), tornaram-se ícones da informação. 


Em Portugal o primeiro periódico impresso surgiu em 1641 e tinha como nome Gazeta em que se relatam as novas todas, que houve nesta corte, e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641, com todas as licenças necessárias, também denominada Gazeta da RestauraçãoO seu objectivo era dar notícia dos acontecimentos da guerra com Espanha e da aclamação de D. João IV como Rei de Portugal, procurando igualmente auxiliar a consolidação da independência (Biblioteca Nacional). Em Janeiro de 1663 surge o primeiro periódico político português em Lisboa com o nome de Mercúrio Português, tendo desaparecido em 1667 A designação de mercúrio foi adoptada por publicações de vários países europeus, evocando o simbolismo do mensageiro dos deuses. Segundo os estudiosos da imprensa periódica, havia diferenças claras entre os mercúrios e as gazetas, apresentando estas últimas um carácter mais noticioso (Biblioteca Nacional). Mas foi só no dia 19 de Agosto de 1715 que o primeiro jornal oficial português inicia a sua publicação com o título de Noticias do Estado do Mundo, cujo redactor foi José Freire de Monterroio Mascarenhas. No entanto o segundo número publicado a 17 de Agosto já surge com o nome com que ficaria conhecido: a Gazeta de Lisboa,  título que se mantém até ao ano 1833 (com algumas alterações de nome pontuais ao longo dos anos). Com a Revolução Liberal no século XIX a imprensa em Portugal desenvolve-se rapidamente e novos periódicos começam a aparecer. A 18 de Abril de 1835 na Ilha de São Miguel  surge o diário Açoriano Oriental, que é o jornal mais antigo do país e o segundo mais antigo da Europa, só suplantado pelo sueco Post-och Inrikes Tidningar que surgiu em 1645. Grandes nomes do jornalismo português surgem no século XIX: O Comércio do Porto em 1854; o Diário de Notícias em 1864 (o primeiro jornal a ter pequenos anúncios, que lhe permitiu ser vendido a menor preço); o Primeiro de Janeiro em 1869; o Século em 1881 e o Jornal de Notícias em 1888. A informação tornava-se acessível a todos e as notícias circulavam rapidamente. 

O século XX tornou a informação ainda mais rápida e com o desenvolvimento de novas tecnologias a noticia impressa foi sendo suplantada pela noticia dada pelos meios audiovisuais. Os jornais, antigos senhores da informação, viram-se ameaçados pela facilidade da divulgação da informação pela televisão e rádios. No século XXI as redes sociais tornaram-se rainhas da comunicação. De pedras impressas, em pouco mais de dois mil anos, passamos a computadores portáteis, Ipads e Tablets onde temos o mundo à distancia de um dedo. A evolução foi fabulosa e o génio humano fantástico. Pena é que a qualidade da informação não tenha acompanhado a qualidade da sua propagação.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A estrela guia

Sentada sob um fantástico céu nocturno galego, dou por mim a olhar encantada para os cachos de estrelas resplandecentes que brilham ininterruptamente. Há quanto tempo não via tanta estrela no céu...as luzes das grandes cidades ofuscam o brilho das estrelas e impedem-nos de observar um dos mais belos cenários naturais: o céu estrelado. Lembrei-me de Van Gogh que afirmava que quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas. Olhar o céu nocturno é um espectáculo natural deslumbrante capaz de ultrapassar as mais belas pinturas e esculturas artísticas expostas pelos museus de todo o mundo. É de graça, não tem limite de entradas e pode ser visto em qualquer lugar do planeta e no entanto poucos são aqueles que a ele assistem. Uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela (Bob Marley). Não olhamos para o nosso céu e não conhecemos as nossas estrelas. São tantas que me perco ao tentar inumerá-las.

Consigo identificar algumas constelações de estrelas pelo seu formato:  a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Cassiopeia e Estrela Polar e poucas mais. Estas grandes e luminosas esferas de plasma, tiveram durante séculos uma enorme importância para todas as civilizações em todo o mundo, como método de orientação. 

Em 1979 na região  do Vale de Ach (região alemã do Danúbio) foi encontrada uma imagem gravada num bloco de marfim, que reproduz a constelação de Orion, com cerca de 32 mil anos. Mas são imensos os registos pré-históricos que comprovam que a observação das estrelas é uma actividade antiga: pinturas rupestres, gravações em pedra, túmulos, artefactos e construções megalíticas. O homem desde sempre utilizou as suas estrelas e com elas conviveu, às vezes adorando-as, outras vezes temendo-as. Com o passar do tempo e através da capacidade de observação o homem percebeu que poderia utilizar as estrelas para sua orientação em viagens terrestres e marítimas. O mais antigo mapa estelar datado do ano 1534 aC, foi encontrado no antigo Egipto. O primeiro catálogo de estrelas foi elaborado pelos astrónomos gregos Aristilo e Timocrates, aproximadamente no ano 300 aC. 

Mas à medida que as civilizações foram evoluindo, com  a descoberta de sistemas de navegação mais complexos e elaborados, deixamos de olhar para cima e passamos a olhar para a frente. As estrelas passaram a ficar lá no cimo e apenas esporadicamente lhes damos uma olhadela rápida. Nietzsche afirmava que  enquanto sentires as estrelas como algo que está por cima de ti não possuis ainda o olhar do homem que sabe. E de facto assim é. As estrelas contam-nos histórias ancestrais e enviam-nos a sua luz carregada de passado. Os telescópios potentes que actualmente conhecemos permitem-nos ver a luz emitida por estrelas que muitas vezes já não existem, mas que mesmo assim nos enviam a sua história através do espaço. Só temos que saber ouvir e saber observar. A nossa história está a ser contada repetidamente em cada estrela que cintila no céu. Somos todos feitos do mesmo pó de estrelas (Carl Sagan) e quem sabe se a nossa tão procurada imortalidade não está na simples capacidade de saber observar uma estrela. Somos todos viajantes de uma jornada cósmica - poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos do infinito. A vida é eterna (Deepak Chopra, professor e escritor indiano).