Sininho é nome de fada do cinema infantil, mas para mim era o nome da minha amiguinha de quatro patas que durante 15 anos partilhou o meu espaço, a minha vida, as minhas alegrias e as minhas tristezas. De grandes e expressivos olhos verdes, de focinho redondo e com um ronrom que transmitia todo o carinho que por nós tinha, pêlo longo e malhado, passeou pela minha vida e pela vida do meu marido ao longo da última quinzena de anos. Amiga mas traquina, carinhosa e arisca, a minha gata Sininho fazia parte de mim.
Agora partiu e deixou um vazio que vai custar muito a passar...a sua presença constante, o estar sempre ali, a rotina de tratar dela, de a sentir sempre "em cima" de mim quando estava ao computador, no sofá a ver televisão, na cama a dormir, ou a passar aos ziguezagues pelas minhas pernas quando estava na cozinha, tudo isto desapareceu...vou ter saudades da minha fada de quatro patas, a minha amiga que não falava, mas que miava de maneiras tão diferentes e tão expressivas que eu sabia bem o que ela queria transmitir. A casa ficou muito vazia, mas nós ficamos mais. Partiu ao meu colo e a receber as nossas festas de agradecimento pela alegria que nos proporcionou ao longo da sua vida. Obrigada Sininho, por teres partilhado connosco a tua vida.
Sei que este post não se coaduna com o espírito do blogue, mas hoje não podia escrever mais nada, nem falar de nenhum outro assunto. Há dias assim...
Portugal é uma República desde o dia 5 de Outubro de 1910. No entanto durante 771 anos, o nosso país foi um reino - o Reino de Portugal. Mais de sete séculos de história, que tiveram como protagonistas 35 Reis e 4 Dinastias. O último monarca português, nasceu a 5 de Novembro de 1889 no Palácio de Belém em Lisboa, filho de D. Carlos I e de D. Amélia. Baptizado com o nome de Manuel Maria Filipe
Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis
Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha, ficou conhecido por D. Manuel II. Passou à história
com os cognomes: O Patriota, pela preocupação que os assuntos
pátrios sempre lhe causaram; O Desventurado, em virtude da
Revolução que lhe retirou a coroa; O Estudioso ou o
Bibliófilo(devido ao seu amor pelos livros antigos e pela literatura
portuguesa). Iniciou o seu reinado no dia 1 de Fevereiro de 1908, após o regicídio, que terminou quando partiu para um exílio forçado em Inglaterra no dia da implantação da República. As suas últimas palavras em solo português foram:Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no iate Real Amélia. Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter
sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o
meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos
meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. VIVA PORTUGAL!
A 4 de Setembro de 1913, casa com D. Augusta Vitória, princesa de Hohenzollern-Sigmaringen, permanecendo o rei D.Manuel de pé durante toda a cerimónia, que foi presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, sobre terra trazida de Portugal. Morreu subitamente no dia 2 de Julho de 1932, com 42 anos, na sua residência em Twickenham, Inglaterra, por edema da glote, sem descendência. O último rei de Portugal está sepultado no Panteão dos Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
Churchil conviveu de perto com D. Manuel II, e referindo-se a ele afirmou: Eis um jovem rei inteligente e dinâmico. Não consigo entender os portugueses, que cometeram um erro muito grave, que lhes pode sair muito caro nos anos vindouros.
D. Manuel II, aqui num pequeno filme sem som, fica para a história como o último rei de Portugal!
Digo: Lisboa Quando atravesso - vinda do sul - o rio E a cidade a que chego abre-se como Se do seu nome nascesse Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna Em seu longo luzir de azul e rio Em seu corpo amontoado de colinas Vejo-a melhor porque a digo Tudo se mostra melhor porque digo Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência Porque digo Lisboa com seu nome de ser e de não ser Com seus meandros de espanto insónia e lata E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro Seu conivente sorrir de intriga e máscara Enquanto o largo mar a ocidente se dilata Lisboa oscilando como uma grande barca Lisboa cruelmente construída ao longo Da sua própria ausência Digo o nome da cidade - Digo para ver (Sophia de Mello Breyner)
Para relembrar uma Lisboa já passada, uma Lisboa do início do século XX, este filme com uma fantástica sucessão de fotografias antigas, mostra-nos com uma espantosa realidade o que foi a vida na capital de Portugal no inicio do século passado. Pessoas, paisagens, edifícios e ambientes recriados nesta sucessão de imagens. Uma encantadora viagem ao passado...
Não há dia que não tenha o nome de um santo qualquer. Se olharmos para as agendas antigas, a seguir à designação do dia aparece o nome de um santo, que a Igreja Católica achou por bem homenagear. Cada dia, cada santo. Existem por isso pelos menos 366 santos contabilizados pela Igreja dos católicos, já que os anos bissextos têm esse número de dias. Foi a Santo Osvaldo que calhou a sina de só ser homenageado de 4 em 4 anos, já que o dia de seu nome é 29 de Fevereiro. De origem dinamarquesa foi cónego de Winchester e arcebispo de York, descrito pelos seus pares como homem generoso, inteligente e um estudioso. Não descobri a causa da sua santidade, talvez por isso só seja lembrado de 4 em 4 anos...
Mas os nomes dos santos que mais facilmente identificamos, são aqueles que estão associados a dias festivos. São João, São Pedro e Santo António são nossos velhos conhecidos. Mas e São Valentim do dia dos Namorados e São Nicolau associado ao Pai Natal? O que sabemos destes santos? Que tradições e histórias estão por detrás dos homens?
São Valentim - sacerdote cristão do século III, viveu em Roma e foi contemporâneo do Imperador Cláudio II, cujo objectivo era constituir o maior exército possível, para manter a hegemonia dos romanos sobre o resto do mundo. Para levar a cabo tal façanha proibiu os casamentos entre os jovens romanos de forma a que estes se alistassem com maior facilidade e diminuísse o número de abandonos do exército. O sacerdote Valentim não acatou a ordem imperial e continuou a celebrar casamentos em segredo. Quando foi descoberto foi preso e condenado à morte. Durante o tempo do seu encarceramento, recebia flores e bilhetes com mensagens sobre a importância do amor. Diz a lenda que se apaixonou pela filha do carcereiro, de nome Astérias. Antes de morrer escreveu uma carta à sua apaixonada assinando no fim de seu Valentim, expressão ainda hoje utilizada pelos casais enamorados. Valentim foi decapitado no dia 14 de Fevereiro do ano 270, dia em que se celebra o dia dos Namorados.
No entanto este dia era para os pagãos a véspera do festival de lupercalia (de lupus que significa lobo, que reporta à lenda de Rómulo e Rémulo) festa anual celebrada na Roma antiga, em honra de Juno, deusa do matrimónio e de Pan, deus da natureza. Na Idade Média, o dia 14 de Fevereiro era considerado o primeiro dia de acasalamento dos pássaros, e era tradição os apaixonados deixarem mensagens de amor na soleira da porta da pessoa amada. Actualmente o dia é celebrado um pouco por todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos da América. Uma tradição com séculos de história.
São Nicolau - o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega, nasceu por volta do ano 270 em Patara, capital da antiga Lícia (actual Turquia) filho de pais nobres. Quando os pais morreram distribuiu a sua fortuna pelos mais carenciados. Foi consagrado Bispo de Mira (actual Turquia) ainda muito jovem e desenvolveu a sua actividade apostólica na Palestina e no Egipto. Foi preso durante o reinado do Imperador Diocleciano que moveu uma perseguição aos cristãos, tendo sido libertado durante o reinado do Imperador Constantino. São-lhe atribuídos muitos milagres sendo considerado protector dos marinheiros, dos mercadores, dos estudantes e especialmente das crianças. Conta a lenda que gastou parte da sua herança de família a distribuir presentes pelas crianças mais carenciadas. Morreu a 6 de Dezembro do ano 342. Nesse dia, já na Idade Média era costume nos países nórdicos, os criados da famílias mais abastadas, deixarem pequenos presentes às crianças em honra de São Nicolau. Foi também nestes países que se desenvolveu a tradição de deixar sapatinhos junto às lareiras para que o santo, também chamado de Velho Pai, pudesse deixar os presentes destinados às crianças. Esta tradição e o culto a São Nicolau espalharam-se por toda a Europa. Após a reforma da Igreja, os países que professaram o Protestantismo abandonaram esta tradição, passando a venerarem o Christkind(Menino Jesus) como aquele que oferecia as prendas às crianças no seu próprio dia de nascimento ou de Natal, o dia 25 de Dezembro.
Mas a lenda de São Nicolau prevaleceu passando o Velho Pai a ser designado como Pai Natal, Père Noel ou Father Christmas, passando também a ser festejado no dia 25 de Dezembro. Apenas na Holanda se manteve a designação de Sinterklaas que significa São Nicolau. Pensa-se que foram emigrantes holandeses que levaram a tradição do culto a São Nicolau para os Estados Unidos da América no século XVII, onde Sinterklaas deu origem a Santa Claus, nome pelo qual ainda hoje é chamado o velhinho de barbas brancas, vestido de vermelho e que distribui as prendas na véspera de Natal. A figura do Pai Natal ou de Santa Claus, como actualmente a conhecemos, é da autoria de um americano de nome Thomas Nast, cuja ilustração foi pela primeira vez publicada no jornal Harper's Weekly em 1866. Masfoi com uma campanha publicitária da famosa bebida americana Coca-Cola, em 1931, que o simpático velhinho passou a ser reconhecido mundialmente como o famoso Pai Natal.
Ao longo dos séculos as tradições foram-se mantendo, passando de geração em geração. Com o nome de São Nicolau, Santa Claus ou Pai Natal, o que importa é que a fantasia e o sonho se mantenham vivos no imaginário de todos, quer sejam crianças ou adultos.
O sobreiro (Quercus Suber) é uma árvore muito comum em Portugal, com grande prevalência a sul do Tejo. Os montados, que são plantações de sobreiros, subsistem apenas nas regiões do Mediterrâneo: Argélia, Marrocos, França, Itália e sobretudo nas regiões do sul da Península Ibérica. Portugal é o país com maior extensão de sobreiros do Mundo, sendo responsável por cerca de 50% da produção mundial de cortiça. Esta espantosa árvore, de porte mediano, tronco tortuoso e folhas permanentes, com 15-20 metros de altura (...) é revestida por uma casca acinzentada, algo enegrecida, espessa e fendida denominada cortiça (Plantar Portugal). De grande longevidade (pode viver em média 150 a 200 anos) e com uma enorme capacidade de regeneração, permite cerca de 16 descortiçamentos ao longo da sua existência. São precisos 25 anos para um tronco de sobreiro começar a produzir cortiça. No primeiro descortiçamento, chamado desbóia,obtém-se uma cortiça muito irregular e dura sendo difícil de trabalhar, a chamada cortiça virgem, sendo utilizada para pavimentos e material de isolamento; só nove anos depois se pode fazer novo descortiçamento, e aí obtém-se a chamada cortiça secundeira, menos dura, mas ainda imprópria para a confecção de rolhas e outros materiais; só no terceiro descortiçamento é que se obtém a cortiça amadia ou de reprodução, regular e lisa, fácil de trabalhar. A técnica de extracção, conservação e transformação da cortiça implica um saber ancestral.
A cortiça já era utilizada na China, no Egipto, na Babilónia e na Pérsia no ano 3000 aC, para fabrico de utensilios ligados à pesca. Em Itália, foram encontradas bóias, tampas para tonéis, sapatos de mulher e telhados de casas, datados do século IV aC. A primeira referência escrita ao sobreiro data desta época. O filósofo grego Teofrasto, nos seus tratados sobre botânica descreve maravilhado a faculdade que esta árvore possui em renovar a casca quando lhe é retirada. Foram também encontradas ânforas cheias de vinho com rolhas de cortiça, em Éfeso no século I aC. Em 1209, Portugal tornou-se no primeiro país a desenvolver legislação ambiental para protecção dos montados. Durante a época dos descobrimentos, as naus portuguesas utilizavam a madeira de sobreiro nas zonas mais expostas à intempérie, já que os construtores diziam que a madeira do sôvaro (era assim denominado o sobreiro) era o que havia de melhor para o liame das naus: além de muito resistente, nunca apodrecia. No século XVIII, um monge francês de nome D. Pierre Pérignon, começou a usar a cortiça para vedar as garrafas do seu famoso champanhe, costume que ainda hoje se mantém. Mas foi só a partir do século XVIII que na Península Ibérica se iniciou a exploração dos montados em grande escala, tornando-se a produção de rolhas de cortiça a principal fonte de rendimento e comércio.
Actualmente a cortiça é usada para a produção de diferentes materiais. Para além das rolhas, é utilizada para isolamento, pavimentos, carteiras, sapatos, roupas, mobiliário e um manancial de outros produtos.
Para podermos ter uma pequena ideia do que é necessário para obter cortiça, aqui fica um pequeno filme de 1960 sobre todo processo de produção deste fabuloso material.
Eu adoro calças! Aliás grande parte do meu guarda-roupa é composto por calças, de diferentes feitios, cores e tecidos. Práticas, fáceis de usar, permitem uma liberdade de movimentos, que dificilmente se conseguiria usando vestidos ou saias. De uso generalizado, as calças são uma peça de vestuário indispensável nos dias de hoje. Mas esta simples peça de tecido que recobre cada uma das pernas da linha da cintura até ao calcanhar, deu muito que falar no inicio do século XX. As calças foram durante muito tempo um privilégio exclusivo do homem ocidental, já que em muitas outras civilizações as mulheres já usavam calças desde há muitos séculos.
Exemplos disso são as amazonas, mulheres guerreiras retratadas na mitologia grega, que usavam calças como única indumentária. Nas Crónicas de Viagem - franciscanos no
Extremo Oriente antes de Marco Polo 1245-1330, podemos ler o seguinte: A Caldéia, tem a sua língua própria, e nela os homens são bonitos, mas as mulheres são feias. (...) as mulheres andam descalças e vestem calças até ao chão. Nesta cidade vi muitas outras coisas, que não é preciso narrar! Na época Vitoriana, em Inglaterra, as mineiras de Wigan (cidade do Norte de Inglaterra), escandalizaram a sociedade britânica ao usarem calças por baixo das saias, que enrolavam à cintura enquanto trabalhavam. Com a industrialização, as mulheres trabalhadoras começaram a usar calças mas apenas e só como indumentária de trabalho.
As primeiras calças desenhadas para o sexo feminino surgiram em 1909, quando o francês Paul Poiret, desenhou as jupe-coulottes (saia-calção) precursoras das calças femininas. A nova peça de roupa desencadeou severas criticas por todo o mundo ocidental. Uns indignavam-se pela forma como o tecido aderia ao corpo da mulher, outros diziam que tornava demasiado visíveis as formas femininas e outros ainda defendiam que era um autêntico atentado ao decoro. Em diferentes jornais de 1911, saíram as seguintes notícias: LISBOA - apareceram ontem à tarde nas ruas mais frequentadas da capital, muitas senhoras trajando a nova moda de saia-calção. Por toda a parte essas senhoras foram vitimas de troças, as quais degeneraram em tremenda vaia. As senhoras de saia-calção foram obrigadas a refugiar-se em casas de amigas; ROMA - o Telegraph de Turim diz que uma senhorita que tentou sair a passeio vestida de jupe-coulotte, o novo traje que aqui denominam também de harém, foi corrida por muitos populares, que a vaiaram e perseguiram, injuriando-a. A malfadada foi obrigada a refugiar-se numa casa de família, de onde mandou buscar ao seu domicilio os trajes usuais; NOVA IORQUE - Nas avenidas Quinta e Broadway apareceram ontem diversas mulheres modelos vestindo jupe-coulottes. Os transeuntes acolheram-nas com pouca curiosidade. A indignação popular foi de tal ordem que até as lojas que exibiam nos seus manequins a nova peça de roupa, eram alvo de ruidosas manifestações.
Coco Chanel foi a grande responsável pela introdução das calças na indumentária feminina. Criadora de um estilo de moda muito próprio e arrojado para a época, libertou a moda feminina de muitos preconceitos e limitações. A primeira mulher a usar publica e orgulhosamente um par de calças clássicas foi a actriz Marlene Dietrich nos anos 30 do século passado, numa cena do filme Morroco, onde contracena com Gary Cooper. A pouco e pouco a mentalidade foi mudando e as calças foram ganhando o seu terreno na moda feminina, chegando mesmo a servir de tema para pequenas anedotas como a que foi publicada numa Revista de moda e que descreve uma conversa entre dois homens: - Mas então quem é que manda? Quem usa calças em tua casa não és tu? - Qual meu amigo! Hoje todos usam calças...até a minha sogra! Durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres realizaram muitos trabalhos até então desenvolvidos pelos homens, onde o uniforme de trabalho eram as calças, tendo-se assim vulgarizado o seu uso pelo sexo feminino. As calças passaram a poder a ser utilizadas livremente e sem receio pelas mulheres, fazendo parte do seu quotidiano. Para trabalho ou para lazer, como traje de cerimónia ou de passeio, o pedaço de tecido que recobre as pernas deixou de ser de uso exclusivo dos homens e passou a ser de uso universal. De boca de sino, de cinta subida ou descida, elásticas, de ganga ou de tecido, com pregas ou sem elas, é vê-las nas pernas de toda a gente. Já ninguém se lembra quando veste umas calças, por todos os insultos e perseguições por que passaram todas aquelas mulheres que lutaram contra os preconceitos e as imposições religiosas do inicio do século XX. O simples acto de vestir umas calças serve de homenagem a todas elas, e um incentivo a todas aquelas que ainda hoje em pleno século XXI se vêm impedidas de vestirem livremente aquilo que querem e de que gostam. É inadmissível que alguém, homem ou mulher, seja preso e sujeito a dez chicotadas por vestir uma peça de roupa, como sucedeu a uma jornalista sudanesa apenas por estar de calças. A liberdade é um direito inalienável e não pode haver politica, religião ou crenças e preconceitos absurdos, que impeçam cada um de exercer o seu direito de viver livremente e de se expressar quer por palavras, quer por acções ou simplesmente pela forma de vestir. Que
nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria
substância (Simone de Beauvoir).
Ver o Porto! Ver o Porto é evocar certa forma de cidade
escondida que conservamos dentro de nós, densa, impenetrável, como a neblina
envolvendo as manhãs e fundindo o rio com os cais e os barcos. Ilusão de
sombras irreais. Transparências. Crepúsculos caindo, suaves, recortando a
leveza das pontes, a elegância das torres, os contornos do casario. (...) É a descoberta dos segredos de uma cidade impregnada de
espontânea e assumida identidade (Helder Pacheco, 1997).
Muitas vezes tentei imaginar como seria a vida na cidade do Porto e dos seus habitantes há 100 anos atrás. As suas rotinas, os seus passatempos, a sua forma de vestir, os locais que visitavam. A Cinemateca Portuguesa conseguiu, com a recuperação deste fantástico filme datado de 1913, trazer até nós o quotidiano dos portuenses no início do século XX. Uma memória viva que nos permite recuar no tempo, visitar lugares, observar momentos e sentir sensações que há muito são passado. Quem disse que não podemos regressar ao passado?
Nota: Este filme faz parte do espólio digital da Cinemateca Portuguesa