sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Os alimentos "tradicionais"



A gastronomia portuguesa é fabulosa! Por mais países que visite não encontro nem mais saber nem melhor magia em cozinhar os alimentos, do que em Portugal. Tanto na variedade de pratos, como no sabor com que os alimentos nos presenteiam, não há como a comida portuguesa! Saberes transmitidos de geração em geração mantêm a qualidade da nossa gastronomia. Os alimentos utilizados na confecção dos nossos tradicionais pratos, como a batata, o milho e o tomate, que fazem parte da nossa culinária há várias gerações, além de nos deliciarem com os seus sabores e odores,  têm também uma fantástica história para nos contar.

A Batata - o nome do nosso conhecido tubérculo tem origem no termo taíno batata (língua falada por um povo indígena pré-colombiano que habitava as Bahamas e as Grandes e Pequenas Antilhas do Norte, no Caribe). Alguns historiadores defendem que provém do termo quíchua papa (língua indígena da América do Sul ainda hoje falada por cerca de 10 milhões de pessoas, sendo uma das línguas oficiais da Bolívia, Perú e Equador). Este tubérculo da família das solanáceas tem a sua origem no altiplano dos Andes (planalto na zona central dos Andes, partilhado pelo Perú, Bolívia e Chile) na América do Sul. Cultivada desde tempos imemoriais, foram encontrados recentemente vestígios arqueológicos deste tubérculo dentro de cavernas no Canion Chica, a 2800 metros de altitude, perto do Perú, datados de 8.000 anos aC. Em 1570 foi trazida do Perú para Europa pelos conquistadores espanhóis apenas como mera curiosidade botânica. Só em 1760 é que a batata foi introduzida em Portugal, mas apenas em 1798, no reinado de D.Maria I, surge uma portaria a incentivar o seu cultivo na Arquipélago dos Açores. A primeira grande produtora de batata foi D. Teresa de Sousa Maciel e o seu filho, primeiro Visconde de Vilarinho e São Romão, gastrónomo, foi o grande impulsionador do cultivo e consumo da batata, tendo publicado dois livros intitulados Manual Prático do Cultivo da Batata e a Arte do Cozinheiro e do Copeiro, este em 1841. A batata passou rapidamente a ser a base da alimentação portuguesa.
Com o passar do tempo a batata tornou-se um dos vegetais mais utilizados na alimentação humana a nível mundial, sendo conhecidas actualmente mais de 3000 espécies. Uma recente pesquisa realizada no Perú, baseada no DNA, comprovou que todas as  variedades existentes da batata descendem de uma única variedade da planta originária do sul do Perú. Actualmente são produzidas por ano, a nível mundial, mais de 300 000 000 toneladas de batatas.

O Milho - é um cereal conhecido mundialmente, com excelentes qualidades nutricionais. É um dos alimentos mais nutritivos que existe, contendo na sua composição dezoito dos vinte aminoácidos conhecidos (apenas não contem a lisina e o triptofano). O seu nome provém da palavra latina miliu e é a variante domesticada do teosinto (gramínea silvestre semelhante ao milho mas de menor tamanho, considerada a sua ancestral). A domesticação do milho há 7500 a 12 000 anos atrás na área central da Mesoamérica (região que engloba o sul do México, a Guatemala, El Salvador, Belize e as regiões ocidentais da Nicarágua, Honduras e Costa Rica)Todas as evidências cientificas apontam para que seja de origem mexicana.
Os primeiros registos de cultivo de milho datam de 7 300 anos atrás. O seu nome indígena significava sustento da vida tal era a sua importância na alimentação. O milho foi a base da alimentação de várias civilizações ao longo dos tempos: da civilização Olmeca (civilização-mãe de todas as civilizações mesoamericanas, que se desenvolveu de 1500 a 400 aC), Maia, Asteca e Inca, que reverenciavam este cereal na arte e na religião. Cerca de 2 500 aC o cultivo do milho começou-se a espalhar para as regiões circundantes à Mesoamérica e no século XVI com as grandes navegações e a colonização americana a cultura do milho expandiu-se para outras as partes do mundo. Em Portugal foi introduzido em meados do século XVI, entre os anos 1515 e 1525, inicialmente no baixo Mondego, propaga-se rapidamente para as zonas interiores e para o Sul do país. Para o distinguir dos cereais do tipo do milho já existentes em Portugal - o painço e o milho miúdo de menor dimensão - os portugueses designaram o novo cereal como milho graúdo ou milho de maçaroca. Esta nova aquisição torna-se muito mais rentável do que o painço, pois a maturação do grão bastante maior, faz-se em apenas quatro ou cinco meses. Rapidamente o milho graúdo tornou-se líder e senhor dos cereais em Portugal, e a sua introdução foi uma das maiores contribuições dos Descobrimentos para a arte da panificação portuguesa. A introdução do seu cultivo veio alterar gradualmente a paisagem do Norte do país, onde actualmente são cultivados mais de 18.000 hectares de milho, e até a arquitectura foi influenciada por este cereal, com a construção dos tão conhecidos espigueiros de pedra.

O Tomate - este conhecido fruto vermelho do tomateiro, é muitas vezes denominado erradamente como legume. Deve o seu nome à palavra tomatl da língua nauatle também denominado de asteca, falada por cerca de um milhão e meio de náuatles, povo indígena que habita a alta planície mexicana. A sua origem não é consensual. Enquanto a maioria dos botânicos afirma que a origem do cultivo e do consumo do tomate se deve à civilização Inca, outros afirmam que é proveniente do México, por o nome do tomate ter origem na língua local. Existe no entanto consenso quanto ao facto de este fruto ser cultivado e consumido pelas civilizações Inca, Maia e Asteca antes de ser levado para a Europa. Inicialmente considerado venenoso pelos europeus, pela sua associação às mandrágoras, planta da mesma família do tomate (Família das Solanaceae) usada em feitiçaria, era apenas utilizado como planta ornamental de jardim. A sua entrada na Europa, segundo os registos documentais existentes, fez-se através da cidade espanhola de Sevilha no século XVI. Consumido e cultivado em pequena quantidade no continente europeu, foi apenas no século XIX que o tomate começou a ser cultivado e consumido em grande escala pelos europeus. Inicialmente em Itália, onde os italianos lhe chamaram o pomo de ouro - il pomodoro, depois em França, Espanha e Portugal, quando finalmente os povos do sul da Europa afastaram a dúvida sobre a associação do tomate à feitiçaria. O fruto vermelho passou a ser um dos principais ingredientes da cozinha mediterrânica. 
Em 2012 Portugal produziu 1,2 milhões de toneladas de tomate, sendo o segundo maior produtor mundial deste saboroso fruto, só atrás do estado americano da Califórnia.

Em pouco mais de um século estes três exemplares tornaram-se parte da nossa história. Enraizados na cultura e tradições portuguesas ninguém diria que não existiram no nosso país desde sempre. Em tão pouco tempo os nossos ancestrais foram capazes de fazer nascer tradições e saberes à volta destes alimentos que ficarão para sempre ligados ao que é ser Português!


Nota: Imagem principal obtida em saborehistorias.blogspot.com

4 comentários:

  1. E o que seria de nós (de mim...) sem eles !!!... Portugal com tomates faz-me lembrar o Hamlet " ser ou não ser...." - aqui seria mais ter e não ter...Grande post !!!

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