Quando falamos em gravata, o
nosso cérebro leva-nos rapidamente a pensar em etiqueta, formalidade, aperto,
nó...De facto a gravata é visto como um acessório de vestuário, que a maioria
dos homens e também algumas mulheres, usam diariamente. Uns usam-na por
obrigação, por fazer parte do seu traje de trabalho, outros gostam de a usar e
outros há que a detestam. Gostando ou não gostando, a gravata assumiu-se e faz
parte das peças que estão guardadas no armário da roupa da maioria das pessoas.
De tal forma ganhou importância que até foram desenvolvidas cruzetas especiais
só para pendurar gravatas! Se é um facto que toda a gente a conhece, poucos são
aqueles que sabem a sua história. Como é que um pedaço de tecido, fino, de
cores diversas, sem aparente utilidade, se tornou numa peça de uso quase
obrigatório? E mais do que isso, como se tornou esta tira de
fabrico sintético, a ser símbolo de etiqueta e de formalidade?
Se pesquisarmos a palavra gravata
na enciclopédia ou num dicionário da língua portuguesa, não conseguimos ficar
muito mais elucidados. Gravata é uma tira de tecido que se passa à
volta do pescoço, geralmente sob o colarinho da camisa, e que se ata em nó ou
laço à frente (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). No
mínimo é estranho, que uma tira com um nó ou laço na frente tenha tido tanta
popularidade, mesmo que muitas vezes obrigatória.
Mais estranho ainda é
sabermos que o raio do nó da gravata, é difícil de fazer e como
se um não bastasse, existem vários tipos de nós com nomes pomposos - Windsor,
meio-Windsor, Americano, o de Shelby também conhecido por nó de Pratt, que
vieram complicar ainda mais a situação. Estranhamente o nó mais fácil de fazer,
o chamado nó ordinário, denominado pelos franceses de petit
noeud, é o menos conhecido e o menos usado. Com um nome destes é fácil de
compreender porquê...ninguém que use uma tira de tecido apertada no colarinho
da camisa, gosta de ter um nó com o nome de ordinário junto ao
pescoço!
No antigo Egipto, foram
descobertas múmias que possuíam junto ao pescoço objectos feitos de
ouro ou de cerâmica, muito semelhantes às actuais gravatas: tinham a forma
de cordão que terminava num nó. Eram usados como amuletos e conhecidos pelo
nome de Sangue de Ísis que tinha como função proteger os
mortos dos perigos da eternidade. Também o exército chinês do Imperador
Qin Shihuang, que foi o primeiro Imperador da China Unificada e que iniciou a
grandiosa construção da Muralha da China, usava à volta do pescoço um tipo de
cachecol com um nó como símbolo de prestígio e de status, por pertencerem à
força militar do Imperador. Quando o seu túmulo foi aberto em 1974, as estátuas
do famoso exército de terracota que foi construído como réplica exacta do seu
exército, apresentavam todas elas panos com um nó à volta do pescoço. Também os
romanos utilizavam o chamado focale que mais não era do que
uma faixa de pano que os soldados romanos utilizavam para proteger o pescoço da
armadura e do frio, que era feito em lã ou linho. O Imperador Trajano
mandou erigir no ano 113 dC, uma fabulosa coluna, a chamada Coluna de
Trajano, onde estão representados milhares de soldados muitos deles com
o focale ao pescoço.
No entanto é aos croatas que
devemos a introdução da gravata como peça de vestuário. Durante a Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648) em que estiveram envolvidas várias nações
europeias por motivos religiosos, dinásticos, territoriais e comerciais,
soldados croatas lutaram ao serviço da França. Após uma batalha contra o
Império Habsburg, o exército francês foi recebido pelo Rei Luís XIV
em Paris, e entre eles encontrava-se um regimento de soldados croatas, que
usavam tiras de tecido colorido ao pescoço. Este enfeite de cor era feito de
tecido rústico para os soldados e de algodão ou de seda para os
oficiais, distinguindo assim as patentes militares. Por volta
do ano 1635, cerca de seis mil soldados e cavaleiros vieram a Paris para dar
suporte ao rei Luis XIV e ao Cardeal Richelieu. Entre eles, estava um grande
número de mercenários croatas. O traje tradicional destes soldados despertou
interesse por causa dos cachecóis incomuns e pitorescos enlaçados em seu
pescoço. Os cachecóis eram feitos de vários tecidos, variando de material
grosseiro para soldados comuns a seda e algodão para oficiais (La
Grande Histoire de la Cravate, Flamarion, Paris, 1994). Os franceses
encantaram-se com o colorido adereço, que denominaram de cravat que
significa croata. O impacto deste pedaço de tecido foi
tal que o próprio rei francês ordenou que o seu alfaiate particular
produzisse uma peça semelhante à utilizada pelos croatas e a introduzisse no
seu trajo real.
Em 1660 Carlos II de Inglaterra,
regressou ao seu país para reclamar o trono, e com ele foram
vários aristocratas ingleses que já tendo adquirido uso da cravat em
França, iniciaram a moda nas ilhas britânicas.
O seu uso popularizou-se
rapidamente pelos restantes países europeus e posteriormente pelo continente
Americano.
Curiosamente o exército francês manteve até
1789, altura da Revolução Francesa, um regimento de elite a que chamava Cravate
Royale. A palavra portuguesa gravata deriva da francesa cravate,
que originalmente significa croata (cravat).
Um pedaço de tecido de origem
bélica, foi transformado pelos franceses num adereço de vestuário, apenas
porque acharam vistosa e apelativa uma tira colorida usada pelos soldados
croatas. Bem descrito nas palavras de Nabuco de Araújo, ministro da Justiça e
Senador do Império do Brasil de 1858 a 1878, está o simbolismo da gravata e a
sua ligação a uma elite da sociedade: a liberdade existe para nós,
homens de gravata lavada, e não para o povo. Sem nenhuma utilidade
prática chegou até aos nossos dias e ainda hoje é usada
por milhões de pessoas em todo o mundo. É sem dúvida uma questão que
dá muito que pensar...
E de todas as vezes que aqui chego, aprendo!
ResponderEliminarObrigada!
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