quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A tradição da "crise"


Portugal existe como nação há mais de 800 anos! Oito séculos de história repleta de grandes feitos e grandes conquistas épicas, plena de mitos, lendas e contos fantásticos, personagens reais que parecem saídas de filmes de Hollywood, Reis e Rainhas, guerras e conflitos, descobrimentos e invasões. Uma nação rica em história, tradições, costumes, potencial humano... e crises!Portugal chega ao século XXI como um país pobre, dependente de outros para sobreviver, necessitado de apoio económico, subserviente e humildemente resignado. Este pedaço de terra à beira mar plantado, nunca desabrochou. Manteve-se plantado, parado, estagnado. Oito séculos de história não nos ensinaram nada, não gravaram na memória de tantas e tantas gerações aquilo que não deveria ser repetido. Somos um país de crises. As crises que decorreram das guerras com os mouros, das lutas com Castela, da epopeia marítima e da construção de um Império ultramarino, que apesar de terem dado nome a Portugal, foram mal geridas e poucos dividendos trouxeram a um País que não soube aproveitar as oportunidades surgidas. A lenta industrialização ocorrida em Portugal no século XIX, que nos deixou irremediavelmente atrasados em relação às outras nações europeias. Um atraso que nunca mais conseguimos recuperar e que nos provocou graves dissabores económicos e sociais ao longo dos anos. As crises e vexames sucessivos por que passamos nos últimos anos da Monarquia, mostrando já os primeiros sinais de subserviência a outros estados europeus, que anos mais tarde se tornariam tão comuns. A ausência de um espírito aguerrido de defesa nacional, de orgulho patriótico e de profundo sentimento de pertença fez com que o nosso País ficasse sempre para trás. A esperança depositada no novo regime republicano, cedo se desmoronou. Seguiram-se 40 anos de uma ditadura, que nos fechou ao mundo, às inovações e ao desenvolvimento e nos deixou ainda mais isolados no último lugar do pelotão europeu. Anos de gastos excessivos pós Revolução do 25 de Abril, conduziram-nos a um descalabro económico e a um estender de mão aos países mais ricos da europa, como única forma possível, para podermos fugir mais uma vez à bancarrota e ao naufrágio total de um país repleto de marinheiros de água doce
Ao longo destes oito séculos de existência passamos por várias situações de crise financeira. Segundo um estudo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff (investigadores da Universidade de Maryland nos Estados Unidos) foram identificados vários episódios de bancarrota na história de Portugal, a maioria no século XIX. Oficialmente, poderemos contabilizar oito: em 1560 (considerada oficialmente a primeira situação de bancarrota em Portugal, durante a regência de Catarina da Áustria, viúva de D. João III), 1605 (no reinado de Filipe III de Castela),  1834 (no reinado de D.Miguel), entre 1837 e 1852 (no reinado de D. Maria II) e em 1892 (no reinado de D.Carlos I). Nesta última bancarrota do século XIX, o Jornal inglês The Economist escrevia no dia 6 de Fevereiro de 1892: Os mercados monetários da Europa estão a ficar cansados, e não sem razão, da constante solicitação por Portugal de novos empréstimos. No próprio interesse de Portugal era preferível que as suas facilidades de endividamento fossem, agora, restringidas.Tem sido evidente de há bastante tempo que o país estava a viver acima dos seus meios. Mais tarde ou mais cedo era inevitável que acabasse em bancarrota – e foi à bancarrota que Portugal agora chegou. Notícia assustadoramente actual apesar de ter sido escrita há mais de 100 anos! Como disse Karl Marx a história repete-se, primeiro como tragédia e depois como farsa. E Portugal está novamente a viver nesta farsa. No século XX a situação repetiu-se e como a tradição ainda é o que era cá estamos nós no século XXI, em plena crise financeira. A palavra crise já é uma tradição portuguesa e o facto de serem quase sempre da responsabilidade de uma pequena franja da sociedade portuguesa, as chamadas elites, também o é. Os anos passaram, as pessoas mudaram, mas os governantes que foram desfilando pelo palco do poder, pautaram-se, com raras excepções, pela falta de competência, cometeram sucessivos erros, tomaram decisões catastróficas, pouco servindo os interesses da nação, e transformaram Portugal num país endividado, empobrecido, desanimado e sem grandes perspectivas de futuro. 
Nunca o bem estar económico de tantos portugueses presentes e futuros foi tão ameaçado pelas decisões de tão poucos, disse Winston Churchill. Não conhecia ele o futuro que nos esperava. Antes usamos o dinheiro que resultou do filão de ouro que provinha das terras do Brasil, para construir catedrais,  palácios e outros monumentos de pedra. Há uns anos atrás utilizamos o dinheiro da Comunidade Europeia para construir estradas, pontes e mais alguns monumentos de pedra. Era lícito construir tudo isto, se as bases essenciais para o alicerçar de uma sociedade já existissem. Os erros mantêm-se, pois não há memória do passado. As tradições devem ser preservadas, mas esta não. O nosso fado é quebrar esta tradição e dar oportunidade à competência, ao saber, ao bom senso e à ética de bem governar.
Apostar no potencial humano em detrimento do poder económico, mudar mentalidades, apostar na educação e na cultura de um povo que tem de começar a acreditar em si próprio. Promover um futuro sem nunca esquecer as lições do passado. Não há nenhum caminho tranquilizador à nossa espera. Se o queremos, teremos de construí-lo com as nossas mãos (José Saramago). Espero que num futuro próximo possamos ser uma  nação projectada para o futuro, mas com memória de um passado de que nos podemos e devemos orgulhar!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O simbolismo da gravata


Quando falamos em gravata, o nosso cérebro leva-nos rapidamente a pensar em etiqueta, formalidade, aperto, nó...De facto a gravata é visto como um acessório de vestuário, que a maioria dos homens e também algumas mulheres, usam diariamente. Uns usam-na por obrigação, por fazer parte do seu traje de trabalho, outros gostam de a usar e outros há que a detestam. Gostando ou não gostando, a gravata assumiu-se e faz parte das peças que estão guardadas no armário da roupa da maioria das pessoas. De tal forma ganhou importância que até foram desenvolvidas cruzetas especiais só para pendurar gravatas! Se é um facto que toda a gente a conhece, poucos são aqueles que sabem a sua história. Como é que um pedaço de tecido, fino, de cores diversas, sem aparente utilidade, se tornou numa peça de uso quase obrigatório? E mais do que isso, como se tornou esta tira de fabrico sintético, a ser símbolo de etiqueta e de formalidade? 

Se pesquisarmos a palavra gravata na enciclopédia ou num dicionário da língua portuguesa, não conseguimos ficar muito mais elucidados. Gravata é uma tira de tecido que se passa à volta do pescoço, geralmente sob o colarinho da camisa, e que se ata em nó ou laço à frente (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). No mínimo é estranho, que uma tira com um nó ou laço na frente tenha tido tanta popularidade, mesmo que muitas vezes obrigatória.

Mais estranho ainda é sabermos que o raio do nó da gravata, é difícil de fazer  e como se um não bastasse, existem vários tipos de nós com nomes pomposos - Windsor, meio-Windsor, Americano, o de Shelby também conhecido por nó de Pratt, que vieram complicar ainda mais a situação. Estranhamente o nó mais fácil de fazer, o chamado nó ordinário, denominado pelos franceses de petit noeud, é o menos conhecido e o menos usado. Com um nome destes é fácil de compreender porquê...ninguém que use uma tira de tecido apertada no colarinho da camisa, gosta de ter um nó com o nome de ordinário junto ao pescoço! 

No antigo Egipto, foram descobertas múmias que possuíam junto ao pescoço objectos feitos de ouro ou de cerâmica, muito semelhantes às actuais gravatas: tinham a forma de cordão que terminava num nó. Eram usados como amuletos e conhecidos pelo nome de Sangue de Ísis que tinha como função proteger os mortos dos perigos da eternidade. Também o exército chinês do Imperador Qin Shihuang, que foi o primeiro Imperador da China Unificada e que iniciou a grandiosa construção da Muralha da China, usava à volta do pescoço um tipo de cachecol com um nó como símbolo de prestígio e de status, por pertencerem à força militar do Imperador. Quando o seu túmulo foi aberto em 1974, as estátuas do famoso exército de terracota que foi construído como réplica exacta do seu exército, apresentavam todas elas panos com um nó à volta do pescoço. Também os romanos utilizavam o chamado focale que mais não era do que uma faixa de pano que os soldados romanos utilizavam para proteger o pescoço da armadura e do frio, que era feito em lã ou linho. O Imperador Trajano  mandou erigir no ano 113 dC, uma fabulosa coluna, a chamada Coluna de Trajano, onde estão representados  milhares de soldados muitos deles com o focale ao pescoço.

No entanto é aos croatas que devemos a introdução da gravata como peça de vestuário. Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) em que estiveram envolvidas várias nações europeias por motivos religiosos, dinásticos, territoriais e comerciais, soldados croatas lutaram ao serviço da França. Após uma batalha contra o Império Habsburg, o exército francês foi recebido pelo Rei Luís XIV em Paris, e entre eles encontrava-se um regimento de soldados croatas, que usavam tiras de tecido colorido ao pescoço. Este enfeite de cor era feito de tecido rústico para os soldados e de algodão ou de seda para os oficiais, distinguindo assim as patentes militares. Por volta do ano 1635, cerca de seis mil soldados e cavaleiros vieram a Paris para dar suporte ao rei Luis XIV e ao Cardeal Richelieu. Entre eles, estava um grande número de mercenários croatas. O traje tradicional destes soldados despertou interesse por causa dos cachecóis incomuns e pitorescos enlaçados em seu pescoço. Os cachecóis eram feitos de vários tecidos, variando de material grosseiro para soldados comuns a seda e algodão para oficiais (La Grande Histoire de la Cravate, Flamarion, Paris, 1994). Os franceses encantaram-se com o colorido adereço, que denominaram de cravat que significa croata. O impacto deste pedaço de tecido foi tal que o próprio rei francês ordenou que o seu alfaiate particular produzisse uma peça semelhante à utilizada pelos croatas e a introduzisse no seu trajo real.
Em 1660 Carlos II de Inglaterra, regressou ao seu país para reclamar o trono, e com ele foram vários aristocratas ingleses que já tendo adquirido uso da cravat em França, iniciaram a moda nas ilhas britânicas.
O seu uso popularizou-se rapidamente pelos restantes países europeus e posteriormente pelo continente Americano.
Curiosamente o exército francês manteve até 1789, altura da Revolução Francesa, um regimento de elite a que chamava Cravate Royale. A palavra portuguesa gravata deriva da francesa cravate, que originalmente significa croata (cravat).

Um pedaço de tecido de origem bélica, foi transformado pelos franceses num adereço de vestuário, apenas porque acharam vistosa e apelativa uma tira colorida usada pelos soldados croatas. Bem descrito nas palavras de Nabuco de Araújo, ministro da Justiça e Senador do Império do Brasil de 1858 a 1878, está o simbolismo da gravata e a sua ligação a uma elite da sociedade: a liberdade existe para nós, homens de gravata lavada, e não para o povo. Sem nenhuma utilidade prática chegou até aos nossos dias e ainda hoje é usada por milhões de pessoas em todo o mundo. É sem dúvida uma questão que dá muito que pensar...




terça-feira, 6 de novembro de 2012

A ponte Luis I ao longo do tempo

Quando pensamos nas cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, vem-nos logo à memória uma grande obra arquitectónica: a ponte Luís I. Esta ponte inaugurada em 1886, faz parte destas cidades e das suas gentes. A ligação das margens do rio Douro através desta obra de arte em ferro, está de tal maneira ligada à paisagem, que parece que a ponte "nasceu" com o rio e que sempre ali esteve. Mas a verdade é que a deslumbrante paisagem do rio Douro serpenteando entre as cidades, nem sempre foi esta que conhecemos. Melhor do que quaisquer palavras, as imagens ilustram bem o passar do tempo... 

1809
Henry Smith "Oporto, With The Bridge Of Boats" 1809 (Ponte das Barcas)

1842
Ponte Pênsil

1869-1871
Ponte Pênsil

1881-1886



A construção do Ponte Luís I 

1886


A Ponte Pênsil e a Ponte D. Luís I 

1888



1903
1905


 1910-1915




1930-1950

2000

(Autor: Padroense)
2005...







O tempo foi passando, a paisagem mudou, as cidades cresceram, mas a ponte Luís I permaneceu sólida, deslumbrando todos os que por ela passam. Ligando as margens do Douro, uniu gerações de pessoas. Tudo mudou, mas a beleza da paisagem essa manteve-se!

Nota: As fotos sem autor identificado foram retiradas da página "Porto Desaparecido" em  www.facebook.com/PortoDesaparecido?fref=ts